• A imagem mostra o interior de uma fábrica do século XIX, com estrutura de madeira e engrenagens grandes movendo máquinas a vapor. Há vários operários, todos homens, vestidos com roupas típicas da época — camisas de mangas arregaçadas, coletes e boinas — trabalhando de forma concentrada. O ambiente é sombrio, iluminado parcialmente por feixes de luz que entram pelas janelas altas. No fundo, penduradas na parede, há duas imagens religiosas emolduradas, sugerindo um elemento de fé no meio do trabalho pesado. O chão está coberto por palha ou fibras vegetais, e o ar parece denso com fumaça e vapor das máquinas. A atmosfera transmite esforço físico intenso, cansaço e um toque de devoção silenciosa.
    Artigo,  Sociedade

    A História da Dor: Entre a Cruz, o Mercado e o Silêncio

    Ao longo da história da humanidade, uma constante atravessa impérios, religiões, sistemas econômicos e correntes filosóficas: nós sofremos, a dor é real. Sofremos no corpo, na mente e na alma; sofremos na guerra e na paz; sofremos na abundância e na escassez. Cada época trouxe seus próprios tipos de dores, e cada indivíduo enfrentou — e ainda enfrenta — seus próprios “demônios”. Leia também: O Peso da Dor e o Silêncio dos Cúmplices O que muda, no entanto, é como a sociedade interpreta e lida com esse sofrimento. Nem sempre existiu o conceito de vitimização. Nas sociedades antigas, lamentar-se publicamente não era, via de regra, bem-visto. A dor, quando exposta,…

  • A imagem mostra um homem sentado em uma cadeira de dentista, vestindo o avental descartável típico de procedimentos odontológicos. Ele tem expressão séria e parece exausto ou introspectivo, olhando fixamente para a frente, sem sorrir. O ambiente ao redor é uma sala de atendimento odontológico, com móveis planejados, equipamentos clínicos e iluminação suave. A imagem possui um filtro em tons de verde e roxo, dando-lhe um ar estilizado e reflexivo. Essa combinação de elementos transmite uma sensação de desgaste emocional e resistência silenciosa — muito alinhada ao relato de um autista lidando com desafios na saúde bucal.
    Autismo,  Neurodiversidade

    A Odisseia de Um Autista com a Saúde Bucal

    Tudo que diz respeito à dentição sempre foi muito difícil para mim. Desde criança (e sendo autista sem saber), a escovação era um verdadeiro suplício: o simples toque das cerdas nos meus dentes provocava uma dor intensa, quase inexplicável. Por isso, eu simplesmente não escovava. O resultado não tardou a aparecer — uma infância marcada por cáries, dores agudas e um tratamento precoce de canal. Era comum que meus dentes doessem ao menor estímulo, e os problemas bucais me acompanharam até cerca dos 25 anos, com múltiplos canais ao longo do caminho. Leia também: A Dor em Pessoas Autistas Com o tempo, fui desenvolvendo estratégias de sobrevivência: descobri escovas mais…

  • A imagem retrata um homem de aparência sofrida, com expressão de dor e introspecção. Ele tem cabelos escuros, barba e marcas de ferimentos no rosto e no peito, que parecem ser cicatrizes recentes. Seu torso está parcialmente descoberto, envolto por um pano simples, e suas mãos tocam suavemente as feridas no peito, sugerindo um gesto de autoafirmação ou reflexão sobre sua dor. A iluminação dramática destaca seu rosto e corpo contra um fundo escuro, criando um efeito de chiaroscuro que reforça a atmosfera emocional da cena. No lado direito da imagem, sombras projetadas na parede parecem formar figuras humanas, o que pode simbolizar uma presença invisível ou um conflito interno. A estética da obra remete a uma representação artística clássica e realista, possivelmente inspirada em imagens de Cristo após a crucificação, evocando temas de sofrimento, redenção e humanidade.
    Crônicas

    O Peso da Dor e o Silêncio dos Cúmplices

    Há uma diferença abissal entre vitimização e a simples narração do sofrimento. Vitimização é quando alguém, de forma deliberada ou inconsciente, se coloca perpetuamente no papel de vítima para evitar responsabilidades, manipular situações ou justificar a própria inércia. Mas falar da dor que carregamos, nomear as feridas que nos marcaram, apontar os agressores que nos machucaram — isso não é vitimismo. É sobrevivência. Leia também: O Paradoxo do Desagradável Salvador Quantas vezes o grito do ferido é abafado pelo discurso fácil de quem nunca sentiu o mesmo corte? “Pare de reclamar”, “supere”, “isso é vitimização” — frases que, não raro, saem da boca daqueles que ou são os algozes ou…

  • Crônicas

    O Merthiolate que Não Arde e a Sociedade que Não Sente

    Na prateleira do tempo, há quem sinta saudade de uma época onde o merthiolate ardia. Esses, nostálgicos do desconforto, parecem lamentar a perda de uma dorzinha que, para eles, fazia a diferença entre a infância e o hoje. O que me espanta é o carinho com que abraçam essa lembrança, como se aquele ardor fosse uma espécie de rito de passagem, um batismo de fogo que validasse o sofrimento e, por conseguinte, a maturidade. Crescemos com a ideia de que o sofrimento molda o caráter, de que a dor é uma ferramenta indispensável para esculpir uma vida digna. Não nego que a dor tem sua função; ela ensina, alerta, amadurece.…

  • Saúde

    Suicídio: Quando a Dor Silencia

    Aqueles que nunca sentiram o peso insuportável de viver, comumente caem no erro de acreditar que alguém que pensa em suicídio escolhe conscientemente considerar essa opção. É uma suposição trágica, carente de empatia, que ignora a realidade devastadora enfrentada por quem carrega essa dor. Quando a mente é tomada por pensamentos suicidas, não há escolha entre viver e morrer. Há apenas a dor, e com ela, a urgência de encontrar uma maneira de silenciá-la. O pensamento suicida não surge como uma decisão, mas como a única resposta visível à aflição insuportável. Não existem bifurcações nesse caminho; existe apenas um túnel escuro em que a única luz parece ser a saída…

  • Saúde

    A Dor que Fala: Uma Crônica de Fibromialgia, Depressão e Superação

    Desde criança, a dor foi minha companheira, uma sombra constante que me assombrava em momentos inesperados. Lembro-me vividamente das noites em que a dor de dente me impedia de dormir, ou da agonia lancinante de uma infecção de ouvido que fazia meu corpo inteiro estremecer. No entanto, nada do que experimentei na infância poderia me preparar para a dor implacável que a fibromialgia traria mais tarde em minha vida. O ano era 2019 quando fui diagnosticado com fibromialgia. No início, as dores eram suaves, quase suportáveis. Mas, como uma tempestade que se forma no horizonte, elas foram se intensificando, crescendo em força e persistência. Os medicamentos que me eram prescritos…