A Arte de Pausar: Um Convite ao Descanso

Na correria incessante do dia a dia, onde a produtividade é exaltada e o descanso é muitas vezes relegado ao segundo plano, esquecemos uma verdade fundamental: a importância da pausa. Desde os primórdios da criação, o próprio Deus nos deu o exemplo. Após a obra magnífica de criar o universo, Deus descansou. Não que Ele precise do descanso como nós, seres humanos. Seu descanso era contemplativo, deleitoso, um momento para apreciar a obra criada. Como está escrito: “Deus não se cansa nem se fatiga, e não há quem esquadrinhe o seu entendimento” (Isaías 40:28). A arte de pausar é um dom que todos recebemos do Criador, precisamos usar este dom.

No entanto, nós, seres criados, somos seres descansáveis. Temos necessidades fisiológicas inescapáveis: precisamos parar para ir ao banheiro, beber água, comer. Precisamos dormir, idealmente, um terço da nossa vida. Essa necessidade de descanso não é um capricho ou fraqueza, mas uma parte intrínseca da nossa condição humana. “Em paz me deito e logo adormeço, pois só tu, Senhor, me fazes viver em segurança” (Salmo 4:8).

Tudo o que é vivo precisa descansar, deitar, dormir, se divertir, sentir prazer, se deleitar, contemplar. Esses momentos de pausa não são perda de tempo; são essenciais para a renovação do corpo e da mente. Os feriados, as férias, especialmente as remuneradas, são celebrações desse princípio. Eles nos convidam a pausar nosso desejo insaciável de construir, consumir e produzir. Precisamos aprender a valorizar o tédio, o ócio que nem sempre é criativo, mas que nos proporciona momentos de reflexão e repouso.

A mulher grávida, após dar à luz, precisa de repouso. É um tempo sagrado de recuperação e adaptação, tanto para ela quanto para o bebê. Da mesma forma, o doente precisa de descanso e cuidados. É por isso que o chamamos de paciente — a espera e o repouso são partes essenciais da cura.

Parar também é viver. Jesus nos ensinou essa verdade de forma sublime. Ele frequentemente se retirava para lugares solitários para orar e descansar. “E ele lhes disse: Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e descansai um pouco. Porque havia muitos que iam e vinham, e não tinham tempo para comer” (Marcos 6:31).

Esses momentos de pausa nos lembram que a vida não é apenas sobre fazer e realizar, mas também sobre ser e contemplar. A verdadeira vida, aquela que é plena e abundante, requer um equilíbrio entre atividade e repouso. Aprender a parar é um ato de sabedoria e humildade, um reconhecimento de nossos limites e uma aceitação da graça divina que nos sustenta.

Que possamos, então, abraçar a arte de pausar, encontrando no descanso não apenas um alívio temporário, mas uma renovação profunda, um momento de encontro com nós mesmos e com o Criador. Afinal, como disse Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mateus 11:28-29).

Assim, em meio à pressa e ao frenesi da vida moderna, lembremo-nos de parar, respirar e simplesmente descansar. Pois no descanso encontramos a vida, e na pausa, a paz.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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