Como uma pessoa autista, sempre percebi que meu modo de processar a fé, as crenças e crendices das pessoas e culturas ao meu redor é diferente. Desde jovem, notei que muitos acreditavam em superstições, rituais e tradições que, para mim, não faziam sentido. Esse mecanismo de crença parece estar desligado em mim. Nunca consegui ter crenças ou crendices, não importa quantas vezes me explicassem ou quantos exemplos visse ao meu redor.
Porém, quando se trata de fé, é uma história completamente diferente. Tenho fé em sua integralidade, como descrita nas Escrituras. Fé é algo que vai além de mim, que não pode ser gerada por mim, não depende de mim e não pode ser alcançada por meus próprios esforços. “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Hebreus 11:1). Essa fé é um fundamento sólido, moldado e entregue pelo autor e consumador desta: Cristo.
Fé, para mim, não é cultural. Não diz respeito aos rituais ou tradições de uma sociedade. Fé é pessoal e espiritual. Ela não se encaixa nas categorias de crendices e superstições que as culturas muitas vezes criam. Fé é uma confiança profunda e inabalável em Deus, uma relação pessoal que transcende o que é visível e tangível. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus” (Efésios 2:8).
Para muitos autistas, a clareza e a lógica são fundamentais. Crenças e superstições, que muitas vezes são ilógicas ou baseadas em tradições culturais, não ressoam conosco. Mas a fé, quando entendida como uma confiança inabalável em algo maior do que nós, pode ser profundamente significativa.
No meu caso, essa distinção é clara. Eu não consigo acreditar em superstições ou seguir rituais que não fazem sentido lógico para mim. No entanto, a fé que tenho em Cristo é diferente. Ela é uma âncora em minha vida, algo que transcende a lógica e se baseia em uma relação pessoal e espiritual.
Essa fé não é algo que eu possa gerar. Ela é um dom de Deus, uma confiança que Ele colocou em meu coração. Essa fé me guia e sustenta, mesmo quando as crenças culturais e superstições ao meu redor parecem confusas e sem sentido. “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam” (Hebreus 11:6).
A fé é algo que toca a alma de maneira profunda, algo que não se explica apenas pela lógica ou pela cultura. Ela é uma experiência pessoal e espiritual que cada um vivencia de maneira única. Para mim, essa fé é uma prova de que, mesmo dentro do espectro autista, as conexões espirituais e pessoais são profundas e reais.
Assim, enquanto me falta crenças e crendices, tenho fé em abundância. E essa fé, enraizada em Cristo, é o que me dá força, propósito e direção em minha vida.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.