Autistas adultos muitas vezes precisam descobrir sozinhos a natureza de sua condição. Quando finalmente conseguem respostas após anos de sofrimento, muitas vezes são menosprezados por terem buscado essa compreensão. O processo de diagnóstico para nós autistas é uma verdadeira jornada que, em muitos casos se arrasta por anos.
Lembro-me claramente de minha experiência no CAPS, onde busquei um diagnóstico formal. A psicóloga me perguntou: “Mas você já se deu o diagnóstico?”. Eu respondi: “Não, eu sofro há 37 anos sem saber os reais motivos, e agora encontrei a resposta.”
Esse foi apenas o início de um longo processo. Tive que relatar todo o meu histórico para a assistente social, a psicóloga e o psiquiatra (individualmente). Depois, repeti tudo para a psicóloga e o psiquiatra juntos, por duas vezes. Finalmente, recebi o diagnóstico formal, após um verdadeiro interrogatório que, em certos momentos, parecia tratar-me como um suspeito.
O psiquiatra ainda me questionou sobre minhas razões para querer um diagnóstico formal, considerando que eu já sabia ser autista. Ele mesmo disse: “Claramente você é autista”.
Essa experiência reflete uma triste realidade: autistas enfrentam humilhações diariamente, especialmente quando buscam compreensão e legitimidade para suas condições. No entanto, desistir não pode ser uma opção.
É importante ressaltar que o autodiagnóstico, no sentido estrito, não existe. Somente profissionais especializados podem fornecer um diagnóstico formal de autismo. As pessoas podem se identificar com traços do espectro autista, mas é necessário passar por consultas com psicólogos e psiquiatras para confirmar essa identificação.
Minha jornada ilustra como o processo de diagnóstico pode ser difícil e, muitas vezes, desanimador. Contudo, buscar respostas é um passo crucial para encontrar formas de lidar melhor com as próprias particularidades e viver de maneira mais plena.
Portanto, se você se identifica com traços do espectro autista, não hesite em procurar ajuda profissional. Esse passo pode ser difícil, mas é fundamental para obter o apoio e as adaptações necessárias para uma vida mais equilibrada.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.