A humanidade sempre teve uma inclinação para se exibir, uma característica notória entre os nobres em seus festivais; de fato, uma síndrome. Hoje, com a democratização das mídias sociais, todos podem aparecer, serem “vistos” e tornarem-se famosos. A questão não está necessariamente em ser visto, mas na motivação por trás desse desejo de exposição.
Exibição e a Fé Cristã
Na fé apresentada por Cristo, a necessidade de aparecer e a vontade de parecer algo que não se é foram duramente questionadas. Nos primórdios da igreja, os discípulos se reuniam às escondidas, não apenas para fugir da perseguição dos judeus e romanos, mas também para evitar o exibicionismo religioso. Jesus enfatizou que as boas ações deveriam ser realizadas discretamente: “quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita” (Mateus 6:3), “não toques trombeta diante de ti” (Mateus 6:2), e “quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, ora a teu Pai” (Mateus 6:6).
O Amor Verdadeiro e o Perigo da Ostentação
O verdadeiro amor deve ser sem fingimento (Romanos 12:9). A necessidade de ser reconhecido por boas obras afasta-nos do amor genuíno, pois só oferece seu pseudo-amor quem espera ser louvado. A exibição é incompatível com o amor desmedido que Cristo nos ensinou.
A Síndrome do Pavão e a Igreja
Infelizmente, a partir do século terceiro, com a institucionalização do cristianismo sob Constantino, a “síndrome do pavão” começou a afetar a igreja. Cristo chamou seus seguidores para serem luz, mas a pomposidade e a ostentação tomaram conta dos líderes eclesiásticos. A igreja, que deveria conduzir os homens à glória de Deus, muitas vezes se perdeu na lama das aparências.
Historicamente, a igreja sobreviveu a esse período de ostentação e saiu vitoriosa. No entanto, nos últimos anos, a situação se agravou. Muitos cristãos verdadeiros estão se deixando levar pelos holofotes e pela comunicação de massa, transformando as práticas eclesiásticas em espetáculos.
A Cultura da Exibição na Igreja Moderna
A síndrome do pavão entrou com força nas igrejas. Tudo precisa ser filmado, postado e compartilhado. Pastores e pregadores transformaram sermões em shows, enfatizando mais os interesses humanos do que a vontade de Deus. Louvores foram incrementados com danças e técnicas teatrais, e o narcisismo substituiu a reverência. O púlpito virou palco, a congregação virou plateia, e a catedral se tornou um local de festa. Obras sociais, antes realizadas com discrição, agora são cartões postais da igreja, sempre publicadas e promovidas.
Reflexão e Chamado à Autenticidade
A fé cristã, outrora distinta nesse mundo de pavões, corre o risco de tornar-se apenas mais um pavãozinho. O pavão, que historicamente foi um símbolo do cristianismo, representando a imortalidade e a ressurreição (devido à crença de que sua carne não se decompunha), hoje serve como um triste lembrete da ostentação que pode corromper a pureza da fé.
Que Deus nos ajude a redescobrir a simplicidade e a autenticidade do evangelho, fugindo da síndrome do pavão e voltando-nos para uma fé genuína, sem fingimentos e aparências, para que possamos verdadeiramente ser luz no mundo.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.