Autismo e Comunicação: Minha Jornada

Frequentemente, sou criticado pelo meu jeito de comunicação, pelo jeito áspero, rebuscado e forte de falar ou escrever. Dizem que estou brigando ou defendendo algo, mesmo quando a circunstância não pede isso. Seja em conversas diárias ou nas redes sociais, essa percepção se mantém. Quando posto ou comento algo, leio e releio até deixar o mais leve possível, mas nunca parece suficiente.

Sei a causa disso. O que poucos sabem é que até os 18 anos eu mal conseguia falar com alguém. Não sabia me comunicar. Cerrava os dentes, falava baixo e para dentro, cabisbaixo, e era angustiante. Fui muito indagado pela suposta timidez, caçoavam e diziam que era mentiroso por não olhar nos olhos. Me repreendiam por evitar conversar.

Então, me cansei. Fui até a biblioteca da cidade ler sobre comunicação. Peguei dois livros, um sobre oratória e outro de retórica, e os li em meia hora. Livros de como debater. Passei a aplicar tudo aquilo diariamente. Em pouco tempo, virei um comunicador.

Todavia, um comunicador preparado para o debate, não para conversas triviais. Essas nem sei ter, não gosto e quase não suporto. Assim que comecei a estudar, questionar, perguntar, debater, me enviaram para um curso de teologia. Depois fui para um curso de filosofia.

Quando se é um jovem com tanta desenvoltura, as pessoas acham lindo. Mas fui virando um homem que passou a questionar os erros, principalmente da igreja e de líderes de má índole. Aí, tudo deixou de ser tão gracioso. Muita gente queria me parar. Cometi e ainda cometo muito sincericídio. Questiono qualquer pessoa, independente de hierarquia ou posição. Isso não faz qualquer sentido para mim. Sofro retaliações por isso, represálias, perdi muita coisa.

Contudo, não lamento. Se não fosse eu ter hiperfocado na comunicação, ainda que para o debate, sem dúvida, não teria nem saído do lugar. Não viveria tantas experiências, nem escreveria sobre isso. O fato é, foi assim que aprendi, já por 20 anos. Nunca tive ajuda de ninguém nesse processo. Não tenho ideia de como mudar, apesar de conseguir melhorar muito. Infelizmente, sei que muitos ainda me rejeitarão, mas é esse quem sou, esse que me formo e vou me formando.

O autismo moldou minha maneira de ver e interagir com o mundo. A comunicação se tornou uma ferramenta vital, não apenas para expressar minhas ideias, mas para afirmar minha identidade em um ambiente que muitas vezes não compreende minhas particularidades. A jornada não foi fácil, mas cada desafio superado fortaleceu meu compromisso com a autenticidade e a verdade.

Hoje, apesar das críticas e mal-entendidos, continuo a comunicar-me com paixão e determinação. Aprendi a valorizar minha voz única e a importância de ser fiel a mim mesmo. A comunicação, para mim, não é apenas uma habilidade, mas uma expressão de quem sou. E, por mais que continue a enfrentar desafios, sigo em frente, aprendendo e crescendo, firme na convicção de que meu jeito de ser é válido e necessário.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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