A Derrocada do Eu-Perfeito

Temperamento pode ser mudado? Eu não sei!

Porém, percebi que, por algum motivo, uma característica muito forte em mim deixou de existir: o perfeccionismo.

Por um tempo, acreditava que deveria procurar a perfeição em tudo e que nada poderia sair do meu controle. No entanto, comecei a perceber que tudo isso me fazia mal. Lutei e percebi que lutar contra o perfeccionismo nada mais é do que ser perfeccionista. Isso definitivamente não resolveria nada, tão somente me faria mais mal. Quando digo que me faria mal, não envolvo apenas a mim, mas também as pessoas próximas a mim.

Uma moral perfeccionista é totalmente sem sentido, pois afirma ser maior do que qualquer outra em seu senso moral, apesar de se tratar de apenas mais uma imoralidade.

Foi então que notei que um cristão não pode ser perfeccionista e simplesmente aceitar isso. Perfeccionismo é oposto à ação divina no ser humano.

Precisava perder o que achava que tinha: o controle, o comando, a voz, o poder, a vontade, a força. Isso parece estranho, mas era o que eu precisava.

Entendi que o perfeccionismo começou a me deixar quando passei a aceitar coisas simples, como entender que todos erramos, que somos imperfeitos tentando sobreviver em um lugar que, de todo modo, só sairemos mortos: a vida!

Não estou falando de aceitar o erro, mas de compreender quem erra. Não estou falando de aceitar o pecado, mas de ter compaixão de quem peca. Como o alcoólatra em uma sessão que compartilha com seus colegas ter bebido todas depois de um ano sem beber nada, e todos lhe olham e dizem: “Nós estamos com você e entendemos sua dor”.

O perfeccionista não sente a dor do outro; tão somente olha para seus ideais e acredita que todos devem alcançá-los, mesmo que nem ele próprio tenha conseguido.

Então, senti que o perfeccionismo havia me abandonado. Foi quando passei pela prova de fogo da minha vida (pelo menos até agora). Fui acometido por uma doença que me deixou praticamente inválido. Sem trabalho, sem forças. Completamente dependente de tudo e todos. O que eu senti? Livre! Senti a liberdade de me deixar ao caos, de sofrer, de chorar, de não me culpar, de não ter que pensar em resolver coisa alguma. Estava livre para ser um fardo e aceitar que os perfeccionistas odiavam aquilo, ainda que não se importassem comigo. Eu não valia nada, e sabia disso. Mas isso não me preocupava. Não se engane, eu não me entreguei, senão nem estaria aqui.

Todavia, acima de tudo, eu me deixei perceber não tendo o controle de coisa alguma e assumi que a única coisa que eu necessitava realmente era me deixar ser amado. E então, na minha falta de perfeccionismo, eu descobri: as pessoas sabem amar, mas você precisa se abrir para isso.

Por isso, não tenho mais medo de nada. Não digo que não sou acometido pelo medo, mas ele não permanece em mim. Exatamente porque eu o aceitei. Todos os males fogem de você quando percebe que vida e morte são o mesmo, e que de ambas você tem consciência, pelo menos até certo ponto.

Deixei-me nas mãos daquele que é Perfeito, mas que se fez humano, só para nos entender. Não, na verdade, para que nós nos entendêssemos como Ele participa de nosso ser.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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