Em uma casa tranquila, onde o sol matinal ilumina a sala e o silêncio é pontuado apenas pelo tic-tac do relógio, vive um papagaio de plumagem vibrante. Ele é o orgulho da família por sua habilidade de imitar vozes e reproduzir frases que escuta diariamente. Contudo, por trás de todo o encanto de sua fala, há um fato inegável: o papagaio não compreende o que diz, limitando-se a repetir sons sem jamais entender o significado das palavras que ecoa.
Da mesma forma, em meio ao mundo dos pensadores, encontramos aqueles que, como o papagaio, são hábeis em repetir o que ouviram, mas não em entender ou questionar. Esses teólogos, que conhecem a tradição como a palma de suas mãos, se contentam em ecoar os pensamentos de seus mestres, sem jamais explorar as profundezas dessas ideias. Suas palavras são impecáveis, suas citações precisas, mas sua teologia carece de vida, de substância, de verdadeira compreensão.
O papagaio, em sua simplicidade, vive preso a um ciclo de repetição. Ele ouve, absorve e reproduz. No entanto, não há um processo de reflexão, de internalização. O som sai de seu bico tão facilmente quanto entrou em seus ouvidos, sem que ele próprio tenha qualquer consciência do que está dizendo. Assim também, alguns teólogos, cercados por livros e doutrinas, se tornam prisioneiros de um ciclo semelhante. Eles absorvem conhecimentos, acumulam informações, mas falham em transformar esse conhecimento em sabedoria, em algo que realmente lhes pertence.
A tradição teológica, rica e diversificada, é essencial. Negá-la seria uma forma de ignorância, de desconexão com a história da fé. No entanto, a verdadeira teologia não é apenas um ato de repetição. Não se trata de recitar as palavras dos grandes mestres como se fossem encantamentos, mas de permitir que essas palavras nos desafiem, nos transformem, nos levem a novas profundezas de compreensão. O verdadeiro teólogo, ao contrário do papagaio, não se contenta em repetir. Ele ouve, pondera, questiona, e, finalmente, cria.
Há uma beleza na repetição do papagaio, uma alegria inocente em sua capacidade de imitar. Mas o que funciona para o papagaio não pode ser o modelo para o teólogo. Enquanto o papagaio pode entreter com suas repetições, o teólogo deve buscar mais. Ele deve permitir que a teologia o atravesse, que suas palavras sejam fruto de um encontro real com o mistério que é Deus. Somente então ele poderá comunicar não apenas o que ouviu, mas o que viveu e experimentou.
O teólogo que vive como um papagaio, repetindo sem refletir, pode se tornar uma figura respeitada por seu conhecimento, mas será sempre um eco, uma sombra. Em contraste, o teólogo que pensa, que questiona, que se aprofunda, transcende a mera repetição. Ele rompe o ciclo do eco e cria algo novo, algo que, embora enraizado na tradição, é verdadeiramente seu.
Assim como o papagaio, conhecido por sua capacidade de imitar, mas nunca por sua originalidade, o teólogo que apenas repete nunca alcançará a plenitude de sua vocação. Que os teólogos aprendam a se libertar das limitações da repetição e a abraçar a profundidade da reflexão. Que eles usem a tradição como um trampolim, e não como uma âncora, e que suas palavras sejam mais do que sons, sejam vida que comunica e transforma.
E assim, enquanto o papagaio continua a cantar as mesmas canções, os verdadeiros teólogos, guiados pelo pensamento e pela reflexão, encontrarão novos caminhos para expressar a antiga fé, transformando ecos em vozes genuínas, capazes de ecoar na eternidade.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.