O Caminho para a Sabedoria

No alto de uma montanha, havia uma pequena cidade chamada Engano, onde seus moradores viviam com medo de descer. Seus ancestrais os advertiam de que aqueles que simplesmente olhassem para baixo nas extremidades do monte seriam tragados pelo abismo e jamais retornariam. Assim, todos mantinham distância.

Engano era um lugar peculiar. As celas da prisão não tinham grades; apenas um grande cartaz na frente de cada uma dizia: “Você está preso”. E, assim, os encarcerados permaneciam nas celas, não por obediência, mas porque acreditavam estar realmente presos.

O líder daquele povoado era o Sr. Não Pense Muito, cujo lema era: “Não pense, eu penso por você”. Todos o tratavam como um deus, pois acreditavam que ele havia emergido do abismo da montanha. Ele dominava as mentes dos moradores, manipulando-os a seu bel-prazer. Os habitantes de Engano eram incapazes de fazer qualquer coisa por si mesmos; viviam tristes, mas convencidos de que eram felizes. Eram verdadeiros robôs. O Sr. Não Pense Muito lhes dizia o que fazer, seguindo a tradição dos antepassados, que lhes ensinaram a viver daquela maneira. Ele se aproveitava da situação, pois todos, dominados pelo medo, acreditavam que as palavras dele eram a verdade absoluta.

Um dia, um homem já idoso, desiludido com sua vida, decidiu por si ir até a extremidade da montanha. Queria saber o que havia ali, afinal, não tinha nada a perder. Aproximou-se da beira, fechou os olhos de medo, e lentamente os abriu. Num instante, contemplou um cenário lindo, jamais visto: florestas, rios, casas e pessoas. Era um delírio de sua velhice? Ele se afastou, deu um frágil sorriso, sentou-se e começou a refletir sobre tudo o que lhe haviam dito. Percebeu, então, algo que nunca havia sentido antes: uma confusão crescente em seu entendimento. Pela primeira vez em toda a sua vida, ele pensava por si próprio.

O idoso permaneceu naquele lugar por mais dois dias, imaginando como seria bom se os outros também soubessem a verdade. Decidiu voltar à cidade e ajuntou várias crianças, levando-as até o local para mostrar-lhes o que havia visto. As crianças ficaram muito alegres com a descoberta.

De volta à cidade, o velho homem foi até a praça e, mesmo com sua voz fraca, gritou: “Existem outros lugares além de Engano! Eu o chamei de Entendimento. Além da extremidade da montanha, existe algo melhor. Não precisam acreditar em mim, apenas venham e vejam.”

Infelizmente, ninguém lhe deu ouvidos. O Sr. Não Pense Muito ordenou que o prendessem, mas o idoso não permaneceu encarcerado, afinal, uma prisão sem grades não pode prender ninguém, pelo menos não alguém que pensa.

O ancião decidiu descer a montanha e viver naquele lugar que chamara de Entendimento. Nunca mais foi visto pelos habitantes de Engano. Contudo, algo inesperado aconteceu: as crianças que haviam visto a verdade cresceram com ela e revolucionaram a cidade, dando-lhe um novo nome: Sabedoria. Um novo líder surgiu, um daqueles que havia visto o Entendimento. Chamavam-no de Mestre, e seu lema era: “Aprenda comigo, pense por si e chegue a uma conclusão”.

Obs.: Escrevi esse texto para um informativo do seminário em 2005, na época o título foi “Uma cidade chamada Engano”. Hoje, reconheço que o título era negativo, enquanto o propósito do texto não era esse.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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