Hoje, as igrejas estão repletas de mensagens que prometem prosperidade, vitória financeira e sucesso material, enquanto a mensagem central do Evangelho é relegada ao segundo plano, se não esquecida por completo. Essa distorção tem sido alimentada por um raciocínio simplista e perigosamente enganoso: “Ah, mas a Bíblia também fala de vitória, de dinheiro, de prosperidade… Então, não há problema em falar disso”.
Sim, a Bíblia menciona dinheiro, vitória e até prosperidade. Porém, assim como menciona membros e esperma de cavalo, esses temas não são centrais à mensagem cristã. Seria no mínimo bizarro, para não dizer herético, ver sermões focados em detalhes grotescos das Escrituras, e ainda assim, é exatamente isso que muitos pregadores fazem quando tomam os temas de prosperidade e vitória material como o centro de suas pregações.
O foco das Escrituras é Cristo—crucificado e ressuscitado. Foi isso que o apóstolo Paulo pregou e enfatizou como a essência da mensagem cristã. Ele foi claro: “Decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Coríntios 2:2). Em nenhum lugar do Novo Testamento vemos Cristo ou os apóstolos ensinando seus leitores a buscar prosperidade financeira como objetivo principal. A vitória da qual as Escrituras tratam é a de Cristo sobre o pecado e a nossa libertação por meio Dele.
Insistir em pregar sobre prosperidade financeira e vitória material, quando o foco deveria ser a cruz e a ressurreição, é uma traição ao Evangelho. É trocar o Cristo crucificado por uma versão diluída e conveniente do cristianismo, que apela às vaidades e às ambições humanas, em vez de confrontá-las com a realidade do sacrifício de Jesus.
Essa tendência de desviar o foco da mensagem cristã para temas triviais e terrenos é sintomática de uma crise mais profunda na teologia moderna: o abandono do cristocentrismo. Pregar sobre prosperidade é, no fundo, pregar um evangelho diferente, um que se ajusta às necessidades de uma sociedade consumista e egoísta, em vez de desafiá-la a carregar sua cruz e seguir a Cristo.
Chegamos a um ponto em que, para muitos, o cristianismo não é mais sobre arrependimento, santificação, ou transformação pela graça de Deus, mas sobre como alcançar sucesso material. O altar se transformou em um palco, e o púlpito, em uma plataforma de autoajuda motivacional. Se Cristo é mencionado, é apenas como um meio para alcançar esses fins terrenos, e não como o fim em si.
Essa distorção não só empobrece a fé cristã, mas também engana e desvia milhões de pessoas do verdadeiro propósito da vida cristã. Prosperidade financeira pode ser um subproduto da vida em Cristo para alguns, mas nunca deve ser o objetivo principal. O Evangelho é, em essência, uma mensagem de renúncia, de tomar a cruz, de viver para algo maior do que nós mesmos.
Portanto, pregadores e líderes cristãos, a quem estão realmente servindo? Às suas congregações, que desejam ouví-los falar sobre prosperidade? Ou ao Cristo crucificado, que os chamou para pregar a verdade, mesmo que impopular?
O cristianismo é sobre Cristo, sua cruz, sua ressurreição, e a transformação radical que isso traz à vida de quem crê. Tudo o mais é secundário, no mínimo. Se a sua pregação não reflete isso, ela não é cristocêntrica, e, francamente, não é cristianismo. É hora de retornar ao Evangelho puro e simples, antes que o verdadeiro significado da cruz se perca em meio às promessas vazias de riqueza e sucesso terreno.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.