Vivemos em um país onde a disparidade social é gritante, mas o que mais intriga é a adoração quase irracional que muito brasileiro pobre tem pelos ricos e poderosos. Há uma síndrome peculiar, uma espécie de fetiche nacional, em que o cidadão comum, mesmo sofrendo as consequências das decisões desses magnatas, levanta sua voz para defendê-los, como se fossem divindades intocáveis. E essa defesa não vem de argumentos racionais, mas de uma cegueira voluntária que beira o absurdo.
É só surgir uma notícia sobre a investigação de um bilionário ou milionário, que logo surge uma legião de defensores apaixonados, prontos para culpar a mídia, o governo, ou qualquer entidade que ouse questionar a integridade dos “nossos heróis”. O caso do Neymar, por exemplo, que foi alvo de investigações por sonegação fiscal, é emblemático. Em vez de questionar a moralidade de um atleta que se recusa a pagar o que deve ao país, muitos preferem colocar-se em posição de vítimas, argumentando que ele é perseguido por ser “bem-sucedido”.
Esse comportamento não se restringe apenas a celebridades esportivas. Quando Elon Musk, um dos homens mais ricos do mundo, demonstrou seu desprezo pelas leis brasileiras ao recusar-se a cumprir regulamentos para o funcionamento do X (antigo Twitter), muitos brasileiros pobres correram em sua defesa. Afinal, como poderia uma figura tão imponente, quase mitológica, estar errada? Para essas pessoas, a simples posse de uma fortuna colossal parece ser sinônimo de inocência e retidão moral.
E o que dizer dos políticos? Lula, Pablo Marçal, Flávio Bolsonaro… todos envolvidos em escândalos, todos com suas hordas de defensores fervorosos. Mesmo quando as provas são contundentes, quando a corrupção é exposta em detalhes chocantes, há sempre aqueles que preferem acreditar em conspirações ou em perseguições políticas, em vez de encarar a dura realidade: a de que o dinheiro corrompe e que ninguém, independentemente de sua conta bancária, está acima da lei.
Por que, então, essa síndrome de vira-latas que leva o pobre a idolatrar o rico, mesmo quando este rico é claramente um criminoso? Será um reflexo de uma sociedade que se acostumou com a desigualdade e que sonha, de maneira patética, em um dia alcançar o topo da pirâmide, mesmo que à custa de sua própria dignidade? Ou será que é simplesmente mais fácil para o brasileiro pobre projetar seus desejos e frustrações em figuras que representam o sucesso material, mesmo que esse sucesso seja fruto de falcatruas?
A verdade é que essa mentalidade é perigosa. Ela cria um escudo de impunidade para os mais ricos, perpetua a desigualdade e impede o progresso de uma sociedade mais justa. Enquanto o pobre continuar defendendo o rico sem questionar, o ciclo de corrupção e opressão seguirá intacto. E talvez, no fundo, seja exatamente isso que os poderosos querem: um povo submisso, cego e facilmente manipulável, que continue aplaudindo seus algozes enquanto é esmagado por eles.
Portanto, é hora de acordar. O rico não precisa da sua defesa, ele tem advogados e influências suficientes para se proteger. Quem precisa de justiça e igualdade é o povo, é você. Pare de idolatrar aqueles que, na realidade, não se importam com sua existência e que, frequentemente, trabalham para manter o sistema que o oprime. Não seja cúmplice da sua própria exploração.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.
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