Coachs e o Desprezo pela Teologia

Vivemos tempos estranhos. Enquanto teólogos dedicam anos de suas vidas ao estudo profundo das Escrituras, mergulhando em línguas antigas, contextos históricos e interpretações complexas, surge uma nova onda de “gurus”, coachs, que, com um vocabulário raso e uma retórica barata, arrastam multidões e engordam suas contas bancárias. É impossível não sentir uma profunda tristeza ao testemunhar essa inversão de valores, onde o estudo sério da teologia é marginalizado em favor de promessas vazias e ilusões douradas.

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Teólogos passam décadas em formação, investem em mestrados, doutorados, dedicam horas incontáveis à leitura e reflexão, e, ao final, muitos deles dedicam seus conhecimentos à igreja local, oferecendo seus ensinamentos de graça, movidos por um genuíno desejo de edificar o corpo de Cristo. No entanto, a recompensa que recebem está longe de ser financeira; é, muitas vezes, o reconhecimento de uma minoria, enquanto a maioria dos cristãos é atraída por discursos fáceis e soluções mágicas.

Aí entra em cena um Pablo Marçal da vida. Sem qualquer base sólida em teologia, ele se autoproclama um especialista em temas bíblicos, distorce as Escrituras para encaixá-las em sua narrativa de prosperidade e autoajuda e cobra fortunas por suas palestras e livros. E o mais espantoso? Ele se torna um fenômeno, enquanto os verdadeiros estudiosos da Bíblia são relegados ao esquecimento.

Os defensores desse tipo de charlatanismo costumam argumentar que “Marçal fala a língua do povo”. Recuso-me a acreditar que a “língua do povo” seja sinônimo de ignorância e superficialidade. O que Marçal faz é apelar para as aspirações mais mundanas de seus seguidores, prometendo riquezas, facilidades, fama, e resultados imediatos—exatamente o que o ego humano deseja ouvir. E o pior: ele vende tudo isso como se fosse um ensinamento bíblico.

Mas vamos ser claros: Marçal e outros como ele não são apenas uma afronta à teologia; são uma afronta à inteligência humana. Eles não têm nada de novo a oferecer, apenas a velha e cansada fórmula da teologia da prosperidade, que já provou ser uma falácia. Eles distorcem a Palavra de Deus, moldando-a para se encaixar em seu discurso comercial, e, assim, traem a confiança de seus seguidores.

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Essa situação é mais do que uma simples questão de interpretação bíblica; é uma inversão completa de valores. Enquanto os verdadeiros teólogos nos convidam a uma vida de reflexão, humildade e dedicação ao estudo das Escrituras, Marçal e sua turma oferecem atalhos, ilusões e promessas falsas. E muitos caem nessa armadilha porque é mais fácil acreditar em uma mentira conveniente do que enfrentar a verdade.

A triste realidade é que vivemos em uma era onde a superficialidade é glorificada, e a ignorância é recompensada. O verdadeiro estudo da teologia, que exige esforço, paciência e um compromisso com a verdade, é trocado por fórmulas prontas e palavras vazias. É hora de acordarmos para esse engodo e começarmos a valorizar aqueles que realmente têm algo a nos ensinar. Porque, no final, não é apenas a teologia em jogo, mas a integridade da nossa fé.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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