A recente denúncia contra o ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, acusado de assédio sexual por 14 mulheres, incluindo a ministra Anielle Franco, revisita uma reflexão profunda sobre a natureza humana, o poder, e a corrupção moral. Silvio Almeida, um homem negro e intelectual respeitado, sempre lutou contra as injustiças sociais, especialmente aquelas que afetam os mais vulneráveis. No entanto, as acusações que recaem sobre ele revelam uma contradição dolorosa: mesmo aqueles que se posicionam como defensores da justiça podem cair nas mesmas práticas de dominação que sempre condenaram.
A filósofa Djamila Ribeiro, em sua análise das dinâmicas raciais e de gênero, aponta que a mulher negra ocupa a última posição na hierarquia social. Primeiro vem o homem branco hétero, seguido pela mulher branca, depois o homem negro, e por fim, a mulher negra, que carrega o peso do preconceito e da desvalorização por parte de todos os outros grupos. Esta hierarquia social perversa é uma realidade inegável e reflete o quão profundamente enraizadas estão as injustiças em nossa sociedade.
Contudo, ao olharmos para esta situação por meio de uma lente bíblico-teológica, percebemos que há mais em jogo do que simplesmente uma questão de poder e opressão. O que vemos é a manifestação do pecado, um mal que não respeita cor, gênero, ou posição social. A Bíblia nos ensina que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23). Desde a queda de Adão, a humanidade está corrompida, vendida ao pecado, incapaz de se libertar por seus próprios méritos ou educação.
A educação, embora vital para a formação moral e ética, serve apenas para mostrar o quanto falhamos em fazer o que é certo. Assim como a Lei mosaica expunha o pecado dos israelitas, a educação moderna revela nossas fraquezas e a incapacidade de viver de acordo com padrões morais perfeitos. Silvio Almeida, com toda sua formação e luta contra a opressão, não está isento da condição pecaminosa que aflige toda a humanidade. Ele, como todos nós, está sujeito à espada da Lei, que exige justiça e retribuição pelos nossos atos.
A situação de Silvio Almeida não é apenas um exemplo de hipocrisia ou falha moral pessoal; ela ilustra uma verdade universal sobre a natureza humana. O ser humano, mesmo quando liberto das correntes da opressão, pode se tornar opressor. Mesmo aqueles que sofreram intensamente sob sistemas injustos podem, quando em posição de poder, perpetuar as mesmas injustiças que sofreram. Isso porque o problema não é meramente externo ou estrutural, mas interno e espiritual.
A raiz do problema reside no coração humano, que, sem a regeneração operada por Cristo, permanece escravo do pecado. A Bíblia nos ensina que “o coração é enganoso mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9). Portanto, a luta contra a opressão e a injustiça não pode ser limitada a reformas sociais ou educativas; ela deve incluir uma transformação espiritual profunda, algo que somente o Evangelho pode proporcionar.
Silvio Almeida deve enfrentar as consequências de seus atos, como qualquer outro cidadão. A justiça humana exige isso. No entanto, essa situação deve nos levar a refletir sobre nossa própria condição. Todos nós somos pecadores, todos nós carecemos da graça de Deus, e todos nós estamos sujeitos a cair nas mesmas armadilhas do pecado, independentemente de nossa posição ou histórico de vida.
Assim, a situação de Silvio Almeida serve como um lembrete sombrio de que a verdadeira libertação do mal não vem mediante ideologias ou sistemas humanos, mas somente por meio de Cristo, que nos liberta do pecado e nos transforma em novas criaturas. Sem essa transformação, continuaremos a ver repetidas vezes a mesma tragédia humana: o sofredor que se torna algoz, o oprimido que se torna opressor. Que possamos buscar a verdadeira justiça, aquela que flui da cruz e que transforma não apenas nossas ações, mas nossos corações.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.