Jogo Perigoso: Crianças e Cassinos Online

Vivemos em um mundo onde a internet, outrora uma ferramenta revolucionária de informação, rapidamente se tornou o novo playground para as crianças. Mas, como qualquer parque de diversões sem supervisão adequada, esse ambiente virtual está repleto de armadilhas, perigos e predadores disfarçados. O que antes era apenas uma questão de exposição a conteúdos impróprios agora se agrava com a crescente participação de crianças como influencers e, ainda mais preocupante, com o envolvimento delas na promoção de apostas online.

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Não é novidade que especialistas, incluindo psicólogos, educadores e até a polícia, alertam há tempos: a internet não é um lugar seguro para crianças. Assim como uma criança sozinha em uma praia movimentada de São Paulo ou Rio de Janeiro estaria exposta a inúmeros riscos, uma criança vagando sozinha pela vastidão da internet está sujeita a perigos semelhantes, talvez até piores, por sua invisibilidade. A situação, no entanto, tomou uma virada sombria e, de certa forma, distorcida. Agora, sob os olhos cegos de pais e responsáveis, crianças não estão apenas consumindo conteúdo, mas também vendendo esse conteúdo, muitas vezes para outras crianças.

A febre dos “influencers mirins” representa uma das faces mais inquietantes do mundo digital. Sob a falsa aparência de fofura e entretenimento, essas crianças são transformadas em ferramentas para promover produtos que nem deveriam estar ao alcance de menores. Em um cenário onde as redes sociais ainda são uma terra sem lei no que tange à regulamentação, elas se tornaram o veículo perfeito para atingir o público infantil com propagandas que, na televisão, estariam estritamente regulamentadas ou até proibidas. Esse é o novo truque das grandes corporações e agora, pasmem, até dos cassinos online.

Sim, os cassinos virtuais, que antes pareciam ser um vício reservado a adultos desesperados por um golpe de sorte, agora encontraram um novo público-alvo: crianças. Segundo pesquisas alarmantes, 35% dos brasileiros deixaram de frequentar a faculdade por conta de dívidas adquiridas após se viciarem em apostas online. Agora, pense nisso: muitos desses jogos, como o famigerado “Jogo do Tigrinho”, estão sendo promovidos diretamente para crianças, com influencers mirins servindo de ponte entre esses cassinos ilegais e a mente facilmente manipulável dos jovens. Isso não é apenas imoral – é criminoso.

Esses influencers mirins são contratados por cassinos online com o claro objetivo de fisgar o público infantil. Para quem acha que é exagero, a realidade bate à porta: crianças, por meio de vídeos coloridos e “divertidos”, estão sendo expostas a um vício que não compreendem, mas que podem carregar por toda a vida. Afinal, a indústria das apostas não está interessada em brincadeiras inocentes. Ela é projetada para capturar, viciar e destruir – e agora ela mira nossos filhos.

Os pais, muitas vezes iludidos pela promessa de fama ou simplesmente desatentos, permitem que seus filhos naveguem nesse mundo perigoso sem perceberem que estão jogando gasolina no fogo. A maioria ignora, ou finge ignorar, que esses jogos são ilegais. Pior ainda, são altamente viciantes, gerando uma espiral de dívidas e frustrações que comprometerá o futuro dessas crianças.

A internet precisa de regulamentação urgente, principalmente quando se trata do que é permitido para crianças. Não podemos mais fechar os olhos e esperar que as redes sociais se policiem. A responsabilidade recai, sem sombra de dúvidas, sobre os pais, mas também sobre o Estado, que deve agir para proteger seus cidadãos mais vulneráveis. Influenciadores mirins promovendo apostas online é apenas o sintoma mais recente de uma doença muito mais profunda, que envolve ganância corporativa, falta de regulamentação e a destruição lenta de uma geração.

A verdade é amarga, mas precisa ser dita: enquanto fingirmos que a internet é um espaço seguro para nossos filhos, estaremos apenas os entregando de bandeja para um sistema que não tem interesse no seu bem-estar. É preciso acordar, reagir e, sobretudo, lutar por um futuro onde crianças sejam protegidas, e não exploradas.

Perguntas para Refletir

  1. Estamos realmente cientes dos perigos aos quais expomos nossas crianças ao deixá-las navegar livremente na internet?
  2. Qual é o impacto de permitir que influenciadores mirins promovam produtos prejudiciais sem regulamentação?
  3. Até que ponto somos responsáveis por proteger nossos filhos de vícios e armadilhas digitais?

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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