Suicídio: Identificar e Prevenir

O suicídio é uma das manifestações mais extremas do sofrimento humano, e a identificação precoce de sinais de alerta pode ser crucial para a prevenção. De acordo com a pós-doutora em Psicologia, Karina Okajima Fukumitsu, há diversos comportamentos que podem indicar que uma pessoa está em sofrimento intenso, e uma mudança abrupta de comportamento é um dos principais. Entretanto, outros fatores precisam ser observados com atenção, especialmente por aqueles próximos à pessoa que está sofrendo.

Indicadores de Sofrimento

Entre os sinais mais frequentes, destaca-se a tentativa anterior de suicídio, que, segundo Fukumitsu, é um dos fatores de risco mais relevantes. Pessoas que já tentaram tirar a própria vida estão em uma situação de maior vulnerabilidade e requerem um monitoramento mais cuidadoso. Além disso, a verbalização de um desejo intenso de morrer ou de frases como “estou cansado da vida” e “sou um fardo” deve ser levada extremamente a sério. Esses comentários não são meras expressões de desânimo, mas pedidos silenciosos de ajuda.

Outros sinais incluem alterações no humor, como oscilações bruscas entre momentos de extrema tristeza e momentos de aparente calma, ou até euforia, que muitas vezes pode ser confundida com uma melhora. Fukumitsu destaca ainda que o isolamento social, distanciamento de amigos e familiares, a perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, bem como problemas de sono (insônia ou sono excessivo), são marcadores importantes de um sofrimento psicológico profundo.

Além disso, a dificuldade persistente de concentração e as manifestações extremas de raiva ou irritabilidade também podem ser sintomas de um processo interno que a pessoa não consegue mais controlar. Esses sinais são frequentemente acompanhados de pensamentos recorrentes sobre morte e sobre a inutilidade de continuar a viver, um indicativo claro de que a pessoa está se sentindo presa em uma situação de desespero.

Comportamentos de Despedida

Outro ponto de alerta crucial é quando a pessoa começa a se desfazer de objetos que têm valor emocional, ou se despede de forma incomum de amigos e familiares. Este tipo de comportamento pode ser interpretado como uma preparação para o suicídio, um ato consciente ou inconsciente de “encerrar ciclos” e “despedir-se” das pessoas e das coisas que foram importantes ao longo da vida.

A súbita adesão ou interesse em questões religiosas também é um comportamento que deve ser observado com cuidado. Fukumitsu ressalta que falas como “logo você não precisará mais se preocupar comigo” ou “você sentirá saudades quando eu me for” não devem ser ignoradas, pois podem revelar que a pessoa está contemplando o suicídio como uma solução final para o sofrimento.

A Importância da Rede de Apoio

Uma vez que esses sinais são identificados, é fundamental envolver a família e formar uma rede de apoio. Fukumitsu aponta que, em muitos casos, a família pode ter dificuldade em aceitar a necessidade de ajuda profissional, seja por preconceito, seja por falta de compreensão sobre a gravidade da situação. Quando isso ocorre, é crucial que uma rede de suporte externa seja formada, seja por amigos, instituições religiosas ou profissionais da saúde mental.

O papel da rede de apoio vai muito além de “estar presente”. Trata-se de oferecer um espaço de escuta ativa, de legitimação dos sentimentos e de não minimizar o sofrimento do indivíduo. Muitas vezes, a pessoa que está em risco de suicídio já tentou, em algum momento, compartilhar seus sentimentos, mas foi invalidada com frases como “isso vai passar”, “você só precisa pensar positivo” ou “tem gente em situação pior”. O chamado “positivismo tóxico” pode agravar ainda mais a situação, pois nega a validade do sofrimento da pessoa, fazendo-a se sentir ainda mais isolada e incompreendida.

Em vez disso, a estratégia deve ser a ressignificação do sofrimento, ajudando a pessoa a encontrar novos significados para as experiências dolorosas e promovendo novas formas de enfrentamento. Mostrar que existem alternativas e que o suicídio não é a única saída, mesmo quando tudo parece apontar para isso, pode ser um grande fator de proteção.

Esperança, Não Positivismo Tóxico

Fukumitsu ressalta a importância de oferecer esperança genuína, e não frases prontas de conforto. É necessário entender profundamente o que causa tanto sofrimento a ponto de levar a pessoa a considerar a morte como a única saída. Escutar e validar esses sentimentos é essencial para que a pessoa se sinta acolhida e compreendida. O encaminhamento para serviços de saúde mental especializados é uma medida que deve ser tomada sempre que houver risco de suicídio, e isso deve ser feito de forma imediata.

Conclusão

O sofrimento emocional que leva ao suicídio raramente é um processo repentino. Muitas vezes, os sinais estão presentes, mas não são reconhecidos ou, pior, são ignorados por aqueles ao redor da pessoa em risco. O alerta de Karina Okajima Fukumitsu serve como um chamado à conscientização, não apenas para profissionais de saúde, mas para familiares, amigos e toda a rede de apoio. Somente com a sensibilização de todos os envolvidos é possível oferecer a ajuda necessária e prevenir que mais vidas sejam perdidas para o suicídio.

Por fim, é importante lembrar que o suicídio não é uma fraqueza ou um “pedido de atenção”, mas um grito desesperado por alívio de um sofrimento insuportável. Validar os sentimentos, estar presente, formar uma rede de apoio e garantir o encaminhamento para os serviços de saúde mental são passos essenciais para salvar vidas.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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