O Mito do Racismo Reverso

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A branquitude dominante, em sua busca incessante por perpetuar o poder, criou uma ficção perversa: o racismo reverso. É uma invenção que, embora absurda, ganhou ressonância entre aqueles que se sentem ameaçados pelo simples ato de questionamento. Esses defensores do poder histórico, em sua engenhosidade para distorcer a realidade, comparam uma ironia lançada por uma pessoa negra a um branco ao peso histórico e sistêmico do racismo. Uma comparação desonesta, tosca, mas cuidadosamente articulada para manter a supremacia intacta.

Há uma fantasia elaborada nessas mentes, que insistem em enxergar o desconforto de ouvir verdades como o mesmo que sofrer a opressão secular. Os poderosos, quando confrontados, armam-se de sua fragilidade inventada, rotulando qualquer incômodo como opressão. Mas o que é isso, senão mais uma estratégia de controle, um reflexo da velha estratégia de suprimir a voz do oprimido, agora disfarçada de suposto equilíbrio?

O mito do racismo reverso é mais que uma falácia: é um desvio cínico da luta real por equidade. Não é uma resposta justa ou um desejo de convivência harmoniosa entre os diferentes. É o suspiro desesperado de quem vê seus privilégios históricos ameaçados, e na tentativa de se blindar, criam narrativas de perseguição onde não há. Mais uma vez, a história dos poderosos é reescrita, desta vez com eles como vítimas, numa ironia crua e amarga.

Os juízes e magistrados, que deveriam estar a serviço da justiça, são por vezes coniventes com esse ciclo vicioso. Blindam os “branquelos poderosos” como se estivessem corrigindo um desequilíbrio imaginário. A verdadeira marginalização, aquela que sangrou e oprimiu por séculos, é novamente silenciada, reduzida a uma questão de opinião. E assim, num espetáculo triste e farsesco, a opressão é legitimada.

O fim do poder branco, aquele que oprimiu e segregou, parece um horizonte inalcançável. As promessas de equidade e justiça, que um dia acenaram no alto dos montes, agora estão envoltas em névoa densa. Enquanto o mito do racismo reverso for alimentado, a verdadeira liberdade, a igualdade que tanto se busca, continuará distante, ofuscada pelas sombras de uma hegemonia que não quer morrer.

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Paulo Freitas

Paulo Freitas

Paulo Freitas é teólogo, filósofo, professor e presbítero. Autista, escreve sobre fé, fragilidade, dor, neurodiversidade e tudo o que nos torna profundamente humanos.

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