Vivemos em uma sociedade que impõe, de maneira sutil ou explícita, normas sobre como devemos nos comportar, pensar e até sentir. Esta “normatividade social” cria um padrão usado para julgar comportamentos como aceitáveis ou “estranhos”. Para alguém como eu, autista, ser chamado de “esquisito” é uma experiência recorrente. Contudo, a pergunta que me faço é: esquisito em relação a quem ou a quê?
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A normatividade social é construída a partir de um consenso majoritário sobre o que é “normal”. Assim, características comportamentais de grupos sociais são generalizadas e cristalizadas como padrões. Alemães e suecos são frequentemente descritos como frios e reservados, enquanto norte-americanos são vistos como entusiasmados e brasileiros como calorosos e amigáveis. Os japoneses, coreanos e chineses são reconhecidos por sua diligência, e os franceses podem ser estereotipados como pouco humorados. Esses padrões sociais variam segundo a cultura, sugerindo que a “normalidade” não é um critério universal, mas uma construção local e contextual.
Quando alguém me chama de esquisito, não o faz porque minha maneira de ser é intrinsecamente errada, mas porque não se encaixa no molde neurotípico em que a sociedade espera que eu me encaixe. O autismo é uma forma de variação humana que possui suas próprias características e formas de expressão. Aquilo que parece “fora do lugar” no contexto neurotípico não é necessariamente estranho ou anormal dentro do contexto autista. Para nós, nossas ações e comportamentos são apenas expressões de nossa maneira de ser, e cada um de nós está apenas fazendo aquilo que humanos fazem: vivendo de acordo com nossas próprias naturezas.
A ideia de que autistas são “seres místicos” ou até mesmo “alienígenas” é um reflexo do distanciamento criado por um imaginário coletivo que tenta transformar o que não compreende em algo que transcende o humano. Isso só reforça estigmas e nos afasta da compreensão e aceitação. Na realidade, cada manifestação nossa é profundamente humana. Nós não possuímos capacidades “sobre-humanas” nem somos figuras folclóricas que precisam ser decifradas.
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O que realmente nos torna “esquisitos” aos olhos da maioria é o preconceito com o diferente e a dificuldade em aceitar aquilo que não se alinha às normas sociais predominantes. Há um medo latente do desconhecido e uma resistência a perceber que a diferença é uma parte fundamental da experiência humana. Assim como culturas diferentes têm maneiras diferentes de expressar suas emoções e comportamentos, autistas têm a sua própria forma de estar no mundo.
Portanto, o que precisamos fazer é normalizar nossas formas de ser, de expressar e de existir. Nossa luta é por um mundo que reconheça que existe apenas um planeta compartilhado por uma diversidade de humanos. O mundo não pertence apenas àqueles que seguem a normatividade neurotípica; ele é de todos nós. Se somos esquisitos, somos apenas enquanto essa sociedade insiste em ignorar que ser humano é, essencialmente, ser diverso.
Precisamos, então, reivindicar nosso lugar e exigir que as diferenças sejam vistas como parte natural da condição humana. Nossa maneira de ser autista não deveria ser invisibilizada nem rotulada como algo fora do comum. Precisamos que nossa existência seja reconhecida como tão humana quanto qualquer outra — porque, afinal, não há um único caminho para ser humano, mas muitos, e todos eles são igualmente válidos.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.
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