O Reino Que Não se Encontra no Voto

A igreja de nossos tempos parece carregar uma mala repleta de anseios ancestrais, um desejo quase utópico de reproduzir um reino onde a divindade governa em teocracia e o homem obedece. Mas, e quanto ao Evangelho? Esse Evangelho marcado por um amor que transcende fronteiras e que se oferece em graça a quem deseja se achegar, de forma voluntária e sincera?

A velha aliança de Israel com Deus foi como uma escola para as gerações, uma lição de fidelidade e de dependência divina. Mas com Cristo, vivemos sob o Novo Testamento, e o amor de Deus se alarga ao “kosmos” — o mundo —, sem exigência de raça ou nacionalidade, sem imposição de um regime. É um chamado à luz, não uma convocação a um sistema de governo. Queremos um mundo transformado, sim, mas à maneira de Deus, não à força de decretos ou de partidos, e tampouco pela pressão de sermos majoritários em urnas.

Quando se misturam os reinos, a igreja arrisca se perder; foi assim na Era das Trevas, e é uma lição que deveríamos aprender. O cristão é um peregrino, um cidadão de um Reino que ainda não se vê por completo, um Reino invisível, eterno, que não se enquadra em fronteiras políticas ou bandeiras nacionais. Este Reino, que é maior que o sonho humano de poder, jamais se sujeitará ao poder temporal de qualquer governante.

A igreja, enquanto comunidade de todos os tempos, não pode se esquecer do que lhe cabe: temer a Deus, amar o próximo, orar, respeitar e lutar pelos que necessitam, jamais pelos próprios interesses. Porque a igreja não é um braço do Estado, mas um braço que acolhe o mundo. E, ainda que politizada, ela não é estatizada, pois seu Rei não é deste mundo.

Lembremos, então, que enquanto estivermos aqui, somos peregrinos, hóspedes de uma pátria superior. Nossa missão? Servir, amar, acolher. Fomos enviados a este mundo para servir, e não para sermos servidos. Que a esperança do Reino Eterno nos inspire a sermos o que Cristo nos chamou a ser, ainda que isso signifique aceitar que o governo deste mundo jamais será o nosso Reino.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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