A imagem retrata um homem de aparência sofrida, com expressão de dor e introspecção. Ele tem cabelos escuros, barba e marcas de ferimentos no rosto e no peito, que parecem ser cicatrizes recentes. Seu torso está parcialmente descoberto, envolto por um pano simples, e suas mãos tocam suavemente as feridas no peito, sugerindo um gesto de autoafirmação ou reflexão sobre sua dor. A iluminação dramática destaca seu rosto e corpo contra um fundo escuro, criando um efeito de chiaroscuro que reforça a atmosfera emocional da cena. No lado direito da imagem, sombras projetadas na parede parecem formar figuras humanas, o que pode simbolizar uma presença invisível ou um conflito interno. A estética da obra remete a uma representação artística clássica e realista, possivelmente inspirada em imagens de Cristo após a crucificação, evocando temas de sofrimento, redenção e humanidade.
Crônicas

O Peso da Dor e o Silêncio dos Cúmplices

Há uma diferença abissal entre vitimização e a simples narração do sofrimento. Vitimização é quando alguém, de forma deliberada ou inconsciente, se coloca perpetuamente no papel de vítima para evitar responsabilidades, manipular situações ou justificar a própria inércia. Mas falar da dor que carregamos, nomear as feridas que nos marcaram, apontar os agressores que nos machucaram — isso não é vitimismo. É sobrevivência.

Leia também: O Paradoxo do Desagradável Salvador

Quantas vezes o grito do ferido é abafado pelo discurso fácil de quem nunca sentiu o mesmo corte? “Pare de reclamar”, “supere”, “isso é vitimização” — frases que, não raro, saem da boca daqueles que ou são os algozes ou são cúmplices do silêncio. Há uma crueldade disfarçada de sabedoria nesse tipo de conselho, como se a cura viesse do esquecimento, e não da verdade.

A história cristã, no entanto, nunca fugiu da narrativa do sofrimento. Jesus foi chamado de “homem de dores” (Isaías 53:3), e os evangelhos não pouparam detalhes sobre sua agonia: o suor de sangue, a traição, a coroa de espinhos, o abandono, o grito na cruz. Nada disso foi registrado para que os discípulos cultivassem um complexo de vítima, mas para que entendessem que a redenção passa pelo reconhecimento da dor, não pela sua negação. Paulo, que antes perseguia a igreja, depois só pregava “Cristo crucificado” (1 Coríntios 2:2), porque sabia que a ressurreição só faz sentido quando encaramos a realidade da morte.

Falar do que sofremos não é fraqueza — é coragem. Calar-se por medo de ser acusado de vitimismo é permitir que a injustiça se repita. Cristo não se fez de coitado, mas também não escondeu suas chagas. Ele as mostrou aos discípulos, prova de que a dor não é vergonha, e sim parte da história.

Se há algo que a fé nos ensina, é que a cura começa quando a ferida é nomeada.

Views: 3

Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *