
Alienígenas Antrópicos e Outras Ficções de Espelho
Hollywood tem uma fixação adorável e meio infantil com alienígenas. Sempre que um novo filme de invasão chega às telonas, já sabemos o que esperar: seres verdes, cabeçudos, com olhos grandes e pretos (provavelmente míopes de tanto olhar para a Via Láctea) ou criaturas gosmentas e hostis que falam uma língua gutural e esquisita — algo entre Klingon e mau humor matinal.
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Mas o que realmente me intriga não são as naves em forma de disco, nem os raios desintegradores ou os planos mirabolantes para dominar Nova York (sempre Nova York, como se os ETs tivessem uma obsessão por bagels e prédios altos). O que me pega mesmo é o fato de que, não importa o quão distante esses seres estejam no universo, eles sempre se parecem… conosco.
É como se a imaginação humana, tão glorificada por poetas e cientistas, tivesse um limite estreito demais: o espelho. Criamos alienígenas com olhos, bocas, tentáculos — tudo que nos remete ao que já conhecemos. Alguns diretores mais ousados até tentam variar: fazem o alien parecer uma lula, um cacto, uma nuvem inteligente com Wi-Fi. Mas, no fundo, continuam sendo variações nossas. Projeções ansiosas da nossa própria anatomia, cultura e ego.
Fala-se em metalinguagem, mas nosso exercício criativo parece ser metamedo: medo de olhar para o cosmos e perceber que só conseguimos ver a nós mesmos. Medo de que o universo, vasto e insondável, nos responda com um silêncio absoluto — ou pior, com um espelho.
Talvez a verdadeira vida extraterrestre seja algo que sequer saberíamos reconhecer. Talvez ela não tenha forma, não conheça tempo, não precise se comunicar porque já é comunicação. Talvez ela seja a própria curiosidade, a dúvida materializada. E nós, com nossas anteninhas metafóricas, continuamos apontando para cima, tentando encontrar alguém que diga: “Oi, terráqueos!” só pra termos certeza de que não estamos falando sozinhos.
No fundo, acho que os alienígenas que tanto procuramos são menos sobre “eles” e mais sobre “nós”. Nossa ânsia por contato imediato é, ironicamente, um pedido desesperado de autoconhecimento. E se algum dia descobrirmos que estamos mesmo sozinhos, será um baque filosófico: não porque não há outros — mas porque talvez nunca tenhamos olhado de verdade para o outro que mora em nós.
E é por isso que, das formas alienígenas que já vi, a mais estranha continua sendo aquela que me encara no espelho todas as manhãs: bípede, pensante, ansiosa por sentido. Um ser claramente de outro mundo.
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