
Uma Festa Para Quem Nunca Foi Convidado
Há um tempo do ano em que as luzes brilham mais forte e as mesas se tornam mais fartas. Pode ser o Natal, pode ser o Ano Novo, ou aquela festa especial da igreja, com decoração caprichada, pratos saborosos e cadeiras reservadas para quem já faz parte do nosso círculo. É bonito, é alegre, é até emocionante. Mas me pergunto: quantas dessas cadeiras foram oferecidas aos que nunca são lembrados?
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Quando Jesus falou sobre o Reino de Deus, Ele não usou a imagem de uma reunião fechada para os amigos de sempre. Ele falou de uma festa. E não qualquer festa, mas um banquete aberto aos pobres, aos coxos, aos cegos, aos aleijados, aos mendigos, aos marginalizados, aos que não podem retribuir em nada. (Lucas 14:13-14). Ele disse claramente: vá buscá-los, insista com eles, traga-os para dentro, para o meio da festa, para a mesa, não para assistir de longe, não para ficarem à parte, mas para sentarem e celebrarem junto conosco.
O problema é que nós, cristãos, nos acostumamos a um tipo de caridade segura. A gente até distribui sopa na praça, entrega uma cesta básica, leva um cobertor quando faz frio. Mas isso ainda mantém distância. Eles lá, nós aqui.
Só que Jesus não nos chamou para fazer obras sociais e depois voltar para casa limpos e tranquilos. Ele nos chamou para fazer comunhão, para abrir nossa casa e dizer: “A mesa é sua também. A festa é sua também. Minha toalha bonita, que eu escolhi com tanto cuidado, é para enfeitar a sua refeição.”
Você já parou para pensar o que seria trazer um morador de rua, um dependente químico, uma pessoa com deficiência abandonada, um órfão, um fugitivo da violência, para celebrar o Natal com você e sua família? Dar banho, vestir com roupas novas, colocá-los para sentar na sala da sua casa, oferecer o melhor pedaço da carne, abrir a coca-cola gelada, cortar o bolo juntos? Não no salão social da igreja, mas na sua casa, no seu mundo, no seu afeto.
Alguém pode dizer: “Mas isso é perigoso! E se forem pessoas más?”
Eu te pergunto: e nós éramos o quê?
Nós, com o coração podre de orgulho e pecado, fomos quem matou o Filho de Deus. Nós gritamos: “Crucifica-o!” E mesmo assim, Ele não hesitou em vir. Ele não se protegeu. Ele nos amou até o fim.
Está na hora de parar com as festas apenas para quem pode nos devolver algo, nem que seja um sorriso educado ou uma boa companhia. Está na hora de fazer festa com quem não tem nada a nos dar — e tudo a receber do amor de Deus.
Festa mesmo. Festa boa. Daquelas com churrasco, refrigerante, música e alegria verdadeira. Não aquela alegria vazia que acaba quando os convidados vão embora, mas aquela alegria que permanece, porque Jesus está entre nós, disfarçado no pobre, no necessitado, no rejeitado.
Não estou dizendo que devemos deixar de lado a obra social. Não! Ela é um dever básico. Mas estou dizendo que não basta ir até eles. Jesus nos chama a trazê-los para junto de nós, para dentro da nossa bolha confortável, para as nossas relações, para o nosso convívio diário.
Chega de festas onde os convidados são escolhidos pelo que podem oferecer. Chega de manter nossas toalhas bonitas guardadas apenas para quem já tem mesas bonitas em casa. Chega de cristianismo burguês, cheio de etiqueta e vazio de Evangelho.
Jesus já nos deu tudo. E com tudo que temos, devemos receber quem não tem nada. Porque, quando fizermos isso, não será só uma festa de Natal ou de Ano Novo, mas será o próprio Reino de Deus acontecendo entre nós.
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