O fim da era dos heróis: uma crítica

Desde os tempos antigos, a figura do herói tem ocupado um lugar central nas narrativas humanas. Nas civilizações antigas, heróis eram vistos como figuras extraordinárias, muitas vezes semelhantes aos deuses, capazes de realizar feitos heroicos e salvar suas comunidades de ameaças externas. A filosofia grega, por sua vez, refletia sobre a condição humana e a busca por redenção, muitas vezes colocando a esperança em salvadores humanos. No judaísmo, a expectativa do Messias refletia a necessidade de um redentor que libertasse o povo de suas aflições. Mas chegamos ao fim da era dos heróis.

No Antigo Testamento, encontramos figuras problemáticas que, embora sejam consideradas heróis em alguns aspectos, apresentam características moralmente questionáveis. Essas narrativas levantam questões sobre a natureza do heroísmo e suas implicações éticas. O conceito de santo, por outro lado, oferece um contraponto interessante à ideia de herói, destacando a santidade como um modelo de vida que desafia a narrativa heroica tradicional.

A filosofia também oferece críticas importantes ao conceito de heroísmo, apontando para a necessidade de os seres humanos assumirem responsabilidade por si mesmos e não dependerem de salvadores externos. A mensagem de Jesus, central no Novo Testamento, apresenta uma ruptura radical com a ideia de herói, ao afirmar que o verdadeiro poder está na humildade e no serviço aos outros. Jesus não veio para ser um herói no sentido tradicional, mas para mostrar um caminho de libertação e redenção que está ao alcance de todos.

Na cultura contemporânea, vemos uma exaltação do heroísmo, principalmente na política e no cinema. Políticos e líderes são frequentemente retratados como heróis que podem salvar o mundo de seus problemas. No cinema, os filmes de super-heróis alimentam a fantasia de que um único indivíduo pode resolver os maiores desafios da humanidade. No entanto, essa visão simplista do heroísmo pode ser problemática, pois desvia a atenção da necessidade de mudanças estruturais e coletivas.

Diante desse panorama, a crítica teológica e filosófica ao heroísmo se torna ainda mais relevante. É preciso questionar a ideia de que precisamos de heróis para nos salvar e reconhecer que a verdadeira transformação vem do engajamento coletivo e da busca por justiça e igualdade. Jesus Cristo, ao despedaçar a era dos heróis, nos convida a sermos agentes de mudança em nosso próprio tempo.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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