Atualmente, observamos uma crise na identidade cristã que é, na maioria, resultado do abandono da teologia sólida tanto por vertentes pentecostais quanto por igrejas tradicionais. A teologia, que deveria ser o alicerce sobre o qual se constrói a prática cristã, foi relegada a segundo plano. Isso gerou um efeito devastador na igreja contemporânea, onde a prática é cada vez mais desconectada de uma base teórica robusta.
Se não há bons teólogos, os pastores que não estudam teologia são piores ainda. A falta de uma boa teoria conduz a uma prática ainda mais deficiente. Muitos líderes religiosos têm sucumbido ao medo de que o estudo teológico comprometa o “poder” do Espírito, um medo que levou vertentes pentecostais a abandonarem a teologia sólida em favor de um emocionalismo desenfreado. O resultado é uma espiritualidade rasa, onde o entendimento profundo das Escrituras é substituído por experiências emocionais que, embora possam ter valor, não sustentam uma fé madura e bem fundamentada.
Por outro lado, muitas igrejas tradicionais se perderam em um tradicionalismo estéril, onde as historietas e rituais tomaram o lugar da busca vigorosa pela verdade bíblica. Essas comunidades, outrora baluartes da ortodoxia cristã, agora veem suas congregações dilaceradas por uma falta de identidade. Não há mais uma identidade cristã coesa, mas sim múltiplas identidades evangélicas, cada uma fragmentada e, em muitos casos, contraditórias entre si.
A falta de conhecimento bíblico tem levado muitos ao extremo do emocionalismo ou ao intelectualismo desprovido de vida. Este fenômeno cria “ventos de doutrinas” que arrastam aqueles que não estão firmados em uma compreensão sólida das Escrituras. Estes ventos, carregados de heresias antigas e novas, têm a capacidade de derrubar aqueles que não têm raízes profundas na Palavra de Deus.
Outro problema sério de nossa época é o liberalismo interpretativo. A Reforma Protestante nos legou a importante verdade de que todos os cristãos têm o direito de interpretar as Escrituras. Contudo, o que começou como uma boa e necessária correção à tirania interpretativa da igreja medieval, agora se degenerou em uma anarquia hermenêutica. Muitos, sem qualquer preparo ou entendimento de princípios hermenêuticos básicos, se lançam à interpretação das Escrituras, produzindo distorções e doutrinas perigosas. Certamente, esse não era o desejo dos reformadores, que buscavam uma leitura mais próxima e fiel à intenção original dos textos bíblicos.
O que aconteceu com os bons estudiosos de teologia? Aqueles que entravam nos seminários visando aprimorar o alimento espiritual para o rebanho, e não para fundamentar suas próprias ideias e ideologias? A teologia, em sua verdadeira forma, deve ser um serviço ao corpo de Cristo, não uma ferramenta de autopromoção. O pastor-teólogo é chamado a mediar a Palavra de Deus ao seu povo, e isso exige uma dedicação ao estudo e à oração, buscando sempre entender e aplicar as verdades eternas de forma que alimentem, protejam e edifiquem a igreja.
Estamos, portanto, em uma encruzilhada. A igreja de hoje precisa decidir se retornará à teologia sólida que fortalece e sustenta a fé cristã, ou se continuará a vagar por caminhos perigosos que levam à fragmentação e à perda da verdadeira identidade cristã. Somente por meio de um compromisso renovado com a teologia, com a interpretação fiel das Escrituras e com a prática fundamentada na verdade bíblica, a igreja poderá resistir aos ventos de doutrina e permanecer fiel à sua missão de ser luz e sal no mundo.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.