O coaching é um mal que tem afetado à igreja neste século. A ideia é que um coach ajude um aprendiz em algum tipo de desenvolvimento pessoal ou profissional. No entanto, esse não é um tipo de serviço necessário à igreja cristã. Apesar do coaching não se tratar de autoajuda, da mesma forma prioriza a ação humana acima do poder divino.
Há coachs evangélicos (gospel, cristão etc) os quais afirmam que o coaching seja um tipo de discipulado e não há nada errado em ajudar ou ser ajudado por meio dessa prática, além disso seus princípios se baseiam na Bíblia. A realidade é que o coaching não tem sequer semelhança com o discipulado bíblico.
Bem, vamos às definições.
Discipulado
A palavra discipulado vem do termo grego mathetês (discípulo) e em exclusivo na Bíblia, tem o sentido de alguém que participou de uma experiência única com Cristo e se tornou seguidor do Senhor e busca ser cada vez mais semelhante a ele. O discipulado acontece por meio da instrução, imitação e amor. Discipulado bíblico é basicamente uma amizade ou irmandade centralizada na pessoa de Cristo para que ambos se tornem como o Senhor.
Coaching
Segundo o Instituto Resonare, “o Coaching Cristão é um processo personalizado de desenvolvimento de pessoas e o que fundamenta a sua prática são os ensinamentos bíblicos” (ênfase minha).
Para o ICC (International Christian Coaching), coaching,
É um processo personalizado de desenvolvimento que ajuda as pessoas atingirem os seus objetivos. É o processo que tira o coachee (cliente) do local atual e leva até o local desejado de acordo com o que Deus tem para a vida do cliente. Nesse processo o profissional de Coach cristão irá se basear nos princípios bíblicos e fundamentos cristãos.
O Coaching Cristão é aplicado às pessoas que desejam ser profissionais em coaching na área cristã, levando os princípios bíblicos ao processo de desenvolvimento. Nesse processo são fortalecidos os relacionamentos ministeriais, a identidade cristã, foco de metas baseado no que Deus tem para o coachee (ênfases minhas).
O que engana nessa definição é a maneira como o coaching é apresentado para parecer ter fundamento na Bíblia, porém algumas palavras inevitáveis mostram que coaching é um mal que tem afetado a igreja, pois é essa técnica é baseada na mesma metodologia do coaching não cristão, no site do ICC afirmam que “ambos usam as mesmas ferramentas e técnicas”.
O real objetivo do coaching não é bíblico
O objetivo do coaching cristão é satisfazer o “cliente” (coachee) para alcançar seus desejos e sonhos. Em outras palavras, o coach (treinador) não é um amigo-irmão, mas um funcionário que segue uma cartilha administrativa e a une ao que eles chamam de “princípios bíblicos”. De modo que a base do coaching é o próprio coaching, não a Bíblia. Enquanto a Bíblia foi suficiente por si mesma durante séculos, na atualidade as ferramentas do coaching são ditas como “indispensáveis” para aplicar a Bíblia.
Mas, e se o coach afirma que o coaching não é discipulado, isso resolve? Na realidade, nem um pouco. O coaching continua sendo um mal que afeta a igreja cristã. A igreja é um organismo vivo e o modo de transformação é o ensino das Escrituras não qualquer ferramenta da psicologia, pedagogia ou outra área. O mais importante é ficar alerta, o coaching não se trata de ferramentas de ensino, mas de tratar o cristão e qualquer característica como um empreendimento de treinamento, muito mais semelhante a um treinador esportivo, que é de onde se origina o termo inglês coach.
O Espírito Santo é o único autor de transformação na igreja
O apóstolo Paulo escreve aos romanos que eles não deveriam se acomodar ao sistema do mundo da época “não vos conformeis com este século”, e que a transformação deles deveria ser a partir da renovação mental que sofreram ao receberem a Cristo (Rm 12), esse era o único meio para conseguirem viver a vontade de Deus. Enquanto isso, aos coríntios lembra que os irmãos não poderiam se desenvolver por meio da sabedoria deste mundo, mas apenas pela fé em Cristo (1 Co 1).
Ambas proposições de Paulo, mencionadas acima, afirmam que não há ferramentas humanas as quais possam transformar o discípulo à imagem do Senhor senão o próprio Senhor em nós, ou seja, o Espírito Santo. Para os romanos e gregos as ferramentas do direito, da ética, da filosofia, da gramática, da matemática, da lógica e da política eram meios de desenvolvimento, contudo, o apóstolo diz que para ser semelhante a Cristo só era necessário viver o amor de Cristo uns com os outros e para com o outro.
Clientelizar as relações na igreja não leva a uma transformação em Cristo, mas conduz à busca por um processo que usa o nome de Jesus com a finalidade de alcançar interesses pessoais. Por isso o coaching possui “foco no desenvolvimento humano e nas conquistas dos sonhos”. A Palavra de Deus ordena a viver a plenitude de Cristo por meio da fé na Palavra, que o discipulado acontece por meio da instrução mútua “ensineis uns aos outros”, pela “imitação de Cristo e uns dos outros” e pela “amizade em amor”. A relação entre coach e coachee são baseadas em parceria profissional, conceito que não aparece nas Escrituras em relação à vida da igreja.
Apesar dos profissionais nessa área tentarem afirmar que se baseiam em princípios cristocêntricos e não humanistas para conduzir o coachee a um desenvolvimento, eles mesmos afirmam que “no coaching cristão trabalha-se o contexto pessoal, profissional e corporativo, ministerial e eclesiástico”, toda a linguagem e prática tem que ver com uma estrutura organizacional empresária, com funcionarismo e profissionalismo. De acordo com a Bíblia essa formação não é a que Cristo deseja para seus discípulos. Ser cristão não se firma sobre qualquer visão corporativa e profissional, mas única e de fato em agradar a Deus.
Coaching é mais um modismo que a igreja segue
Como todo tipo de moda do momento o coaching também transformou Jesus em “Jesus coach”, como afirma o título de um livro. Jesus já foi o “maior psicólogo”, o “maior filósofo”, “político” e tantas outras denominações. Contudo a Bíblia afirma que ele é “o Cristo o Filho de Deus, o Rei dos reis e Senhor dos senhores”, precisamos entender que todos esses títulos atribuídos a Cristo não o coloca no senso de promoções humanas, mas, pelo contrário, demonstra que a supremacia de Cristo está em ele sendo Deus fazer si homem e levar sobre si nossos pecados. Não é ele que se baseie em nossas funções, sim nós que devemos viver a vida nele, por ele e para ele segundo os próprios meios dele.
Quaisquer características promovidas pelo coaching podem ser alcançadas por alguém que creia ou não em Deus. Isso acontece porque o ser humano pode agir e ter uma personalidade coerente e boa mesmo sem servir a Cristo, afinal, foi o próprio Deus quem criou o ser humano. Contudo, a verdadeira transformação espiritual e a derrota do pecado apenas podem acontecer pela obra de Cristo e a ação do Espírito no interior do cristão como igreja. Porém, se o cristão aplica meios que tendem a confiar em si próprio ou em um treinador a sua esperança não está mais no Senhor Jesus.
Para esclarecer, se alguém em sentido não-cristão quer buscar a ajuda de um coach que o faça, mas não misture isso com a fé cristã, pois não é, tal como não existem psicologia cristã, psicanálise cristã, ciência cristã dentre outras. O cristão não carece de um funcionário de desenvolvimento, mas de viver junto a alguém que como irmãos caminhem de glória em glória considerando um ao outro como superior a si próprio e servindo um ao outro mutuamente para a glória de Deus. Em conclusão, o coaching é um mal que tem afetado a igreja e não pode ser tolerado, pelo contrário, precisa ser abandonado e questionado a partir da Palavra de Deus.
Referências e pesquisas
BÍBLIA SAGRADA. Várias edições pesquisadas.
GINGRCH, F. W.; DANKER, F. W. Léxico do Novo Testamento grego/português. São Paulo: Vida Nova, 1984.
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http://iccbrasilcoaching.com.br/treinamentos/coachcristao/
https://institutoresonare.com.br/o-que-e-coaching-cristao
https://institutoresonare.com.br/coaching-cristao-ferramenta-de-transformacao
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.
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