Vivemos tempos estranhos. Tempos em que o rótulo de “cristão” vem sendo usado em perfis de redes sociais como uma medalha de honra, mas as palavras que acompanham esse título revelam uma contradição gritante. Diariamente, nos deparamos com postagens de supostos seguidores de Cristo que exclamam frases como “Bandido bom é bandido morto,” “Os sem terra devem morrer mesmo,” e “Estuprador tem que ser linchado mesmo.” Ao ler tais declarações, me pergunto: que tipo de cristianismo essas pessoas estão professando?
É possível que estes “cristãos” não entendam absolutamente nada sobre a Bíblia ou o amor de Deus. Pior ainda, talvez nunca tenham experimentado o real significado de ser um seguidor de Cristo.
O próprio Deus, por meio do profeta Ezequiel, declara que Ele não se deleita na morte do ímpio (Ezequiel 33:11). Essa declaração é feita em um contexto de grande pecaminosidade, onde Israel estava à beira da destruição. Deus, em Sua justiça e misericórdia, não queria que os ímpios morressem, mas que se arrependessem. O contraste disso é claro quando o salmista afirma que “Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos” (Salmos 116:15). Note a diferença: Deus valoriza a morte dos Seus santos, mas não se alegra na morte dos pecadores.
No entanto, parece que os “cristãos” do século XXI têm uma visão deturpada da justiça divina. Muitos acreditam que Deus os quer vivos a todo custo, como se a sobrevivência deles fosse essencial para o plano divino. Dessa forma, justificam a morte dos chamados “ímpios” como algo desejado por Deus, esquecendo-se de que Cristo nos chamou para morrer, se necessário, e não para matar ou desejar a morte dos outros. Jesus enviou seus discípulos como “ovelhas para o meio de lobos” (Mateus 10:16), e Pedro nos exorta a seguir os passos de Cristo, sofrendo por fazer o bem.
É perturbador observar que, para muitos, o cristianismo se tornou uma bandeira para justificar a violência e o ódio, em vez de um caminho de amor sacrificial e perdão. Paulo, o grande apóstolo, declarou que estaria disposto a sacrificar até sua própria salvação pela salvação dos outros (Romanos 9:3). Quantos dos que se autodenominam cristãos hoje estariam dispostos a fazer o mesmo?
A verdade é que muitos que mantêm o status de “cristão” em seus perfis de redes sociais mostram, na realidade, que não compreendem o que significa seguir a Cristo. Ser cristão é estar disposto a viver e a morrer por Cristo, o que implica em viver e morrer como Ele. Isso significa amar os inimigos, orar por aqueles que nos perseguem e, acima de tudo, não sentir prazer na morte dos ímpios.
O cristianismo verdadeiro não se baseia em vingança, mas em redenção. Cristo nos chamou para ser luz em meio às trevas, e isso não inclui apagar vidas, mas sim iluminar corações. Portanto, é imperativo que, como seguidores de Cristo, rejeitemos qualquer doutrina ou pensamento que promova a morte como solução. Devemos lembrar que nosso chamado é para a vida – a vida eterna, tanto para nós quanto para aqueles que ainda não conhecem o Salvador.
Em um mundo onde o ódio e a violência parecem prevalecer, que sejamos agentes de paz e reconciliação, mostrando ao mundo que o verdadeiro cristianismo é aquele que se reflete no amor incondicional, na misericórdia sem limites, e na esperança de que, até o último suspiro, o mais vil pecador possa encontrar redenção em Cristo.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.