Sobre Igrejados e Desigrejados
É curioso observar como, ao longo dos séculos, o cristianismo institucionalizado foi se transformando em uma série de rituais, normas e tradições que, embora pudessem ter seu valor em determinados contextos, acabaram muitas vezes obscurecendo o cerne do que deveria ser o Evangelho de Cristo. O movimento dos desigrejados, que frequentemente é criticado pela sua escolha de abandonar as estruturas institucionais da igreja, nos leva a refletir sobre questões fundamentais do relacionamento do ser humano com Deus, e a crítica a eles não deveria existir sem uma crítica paralela ao que chamo de “igrejados” — aqueles que permanecem na igreja institucional, mas que, em muitos casos, também perdem o foco…
Whiteface: Ironia e Resistência
O debate sobre whiteface, quando uma pessoa negra pinta o rosto de branco, levanta questões que vão além da superfície. Ao contrário do blackface, o whiteface não pode ser classificado como racismo. Para compreender essa diferença, é essencial entender o que o racismo realmente significa. Racismo não é apenas um preconceito individual, mas uma questão estrutural e histórica, enraizada na opressão sistemática de grupos marginalizados. Nesse contexto, a população negra sofreu – e continua sofrendo – com as consequências devastadoras do racismo: escravidão, segregação, genocídio cultural, exclusão econômica, entre outras formas de violência e desumanização. Leia também: Blackface: A Arte da Humilhação O blackface, historicamente, foi uma ferramenta de dominação.…
Blackface: A Arte da Humilhação
O blackface é um conceito carregado de racismo, um símbolo de discriminação e desumanização histórica. No século XIX, em pleno auge do racismo institucionalizado, homens brancos se pintavam de preto e parodiavam, de forma grotesca, pessoas negras em apresentações teatrais chamadas de minstrel shows. O objetivo não era entreter com empatia, mas ridicularizar. As encenações promoviam estereótipos racistas: os negros eram retratados como preguiçosos, infantis, incivilizados e até mesmo perigosos. Leia também: Whiteface: Ironia e Resistência À primeira vista, o blackface pode parecer uma forma de “arte” inofensiva para quem desconhece seu contexto, mas ele está intrinsecamente ligado ao racismo e à perpetuação da inferiorização da população negra. O problema…
Honrando os Pais, Não Seus Erros
Na cultura em que muitos de nós fomos criados, a violência física como forma de correção foi normalizada. Pais acreditavam que, ao bater em seus filhos, estavam moldando seu caráter e ensinando respeito. Mas será que essa violência realmente contribuiu para o nosso bem-estar? A reflexão de Leiliane Rocha, “Você não é o que é porque apanhou, você é o que é apesar de ter apanhado”, nos convida a reavaliar a relação entre a disciplina e o uso da força física. A Bíblia, um guia moral para milhões de pessoas, nos instrui claramente a honrar nossos pais (Êxodo 20:12), mas não nos pede para honrar os erros deles. Existe uma…
O Mito do Racismo Reverso
A branquitude dominante, em sua busca incessante por perpetuar o poder, criou uma ficção perversa: o racismo reverso. É uma invenção que, embora absurda, ganhou ressonância entre aqueles que se sentem ameaçados pelo simples ato de questionamento. Esses defensores do poder histórico, em sua engenhosidade para distorcer a realidade, comparam uma ironia lançada por uma pessoa negra a um branco ao peso histórico e sistêmico do racismo. Uma comparação desonesta, tosca, mas cuidadosamente articulada para manter a supremacia intacta. Há uma fantasia elaborada nessas mentes, que insistem em enxergar o desconforto de ouvir verdades como o mesmo que sofrer a opressão secular. Os poderosos, quando confrontados, armam-se de sua fragilidade…
O Amor que Reconhece as Diferenças
Ao entrar na clínica onde meu filho, autista, realiza suas sessões de terapia, deparei-me com uma frase que, à primeira vista, parece acolhedora e cheia de boas intenções: “Enquanto existir amor, não haverá diferenças.” No entanto, ao refletir mais profundamente sobre essas palavras, percebo o quanto elas são problemáticas, principalmente quando aplicadas ao contexto da neurodiversidade. A neurodiversidade, como o próprio nome sugere, é o reconhecimento das diferenças neurológicas entre os indivíduos. Ela nos ensina que o cérebro humano pode funcionar de diversas maneiras, e essas variações são naturais e devem ser respeitadas. A frase na clínica, porém, parece sugerir que o amor tem o poder de apagar ou ignorar…