Quem Tem Medo de Karl Marx?: Crítico ou Bicho-Papão
“A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo.” — Karl Marx É comum, nos meios cristãos mais conservadores, ouvir que Karl Marx deve ser evitado como um bicho-papão ideológico. Há quem o trate como uma ameaça à fé cristã, um ícone ateísta cuja missão seria destruir tudo o que diz respeito a Deus. Mas será que essa percepção é justa, ou é fruto de um mal-entendido profundo? Quem tem medo de Karl Marx — e por quê? Leia também: O Mito do Racismo Reverso Antes de qualquer…
Amy Carmichael: A Menina que Queria ter Olhos Azuis
A menina que queria ter olhos azuis morava num corpo franzino, com dores inexplicáveis e alma de gigante. Amy Carmichael nascera em meio a olhos oceânicos — os da mãe, os dos irmãos, os dos anjos dos vitrais da igreja. Ela, no entanto, carregava dois olhos castanhos, como terra molhada depois da chuva. E como chovia nela… Leia também: Oração: O Contraditório Dom da Humildade Desde pequena, enfrentava dores na cabeça, no rosto, no corpo — dores que os médicos não sabiam nomear direito, mas ela sentia como agulhas que vinham sem avisar. Se algum adulto olhasse aquela menina deitada por tanto tempo, talvez dissesse: “Essa aí só vai dar…
Fofoqueiros do Reino: A Santa Arte de Espalhar o Verbo
Dizem que o mundo gira, mas a fofoca voa. E não adianta fazer cara de santidade: todo mundo, em algum momento da vida, deu aquela esticadinha no ouvido pra saber da vida alheia. Uns chamam de curiosidade, outros de “preocupação pastoral”, mas a verdade é que o ser humano tem um radar afiado pra novidade — principalmente quando não é sobre si mesmo. Agora, imagine só se esse dom auditivo e linguístico fosse redirecionado. Já pensou em usar a fofoca como ministério? Calma, não estou propondo heresia, mas sim teologia. Sim, senhor. A Teologia da Fofoca. É ousado, eu sei. Mas também é bíblico — dependendo do que se anda…
Entre a Cruz e os Grilhões: A Escravidão e a Ambivalência Histórica do Cristianismo
Introdução A escravidão foi uma das instituições mais cruéis e persistentes da história humana. Entre os séculos XV e XIX, milhões de africanos foram arrancados de suas terras e submetidos a uma existência de servidão, violência e desumanização. O que causa perplexidade é o fato de que, durante grande parte desse período, o Cristianismo — a religião do Deus encarnado como servo — foi usado tanto para justificar quanto para combater a escravidão. Este ensaio propõe uma análise teológico-histórica dessa ambivalência, comparando as justificativas oferecidas por católicos e protestantes, tanto a favor quanto contra a escravidão. A partir disso, refletimos sobre a relação entre fé e poder, Bíblia e ética,…
Autismo: A Dor que se Explica e a Escuta que Liberta
Às vezes, tudo o que eu queria era me esquecer por alguns minutos que sou autista. Não porque ser autista seja algo que me envergonha, mas porque o cansaço de me explicar consome mais energia do que a própria condição. Há quem diga que eu falo demais sobre isso, como se a frequência da minha fala fosse um exagero, como se insistir em existir com palavras fosse uma espécie de vaidade. Mas, se não falo, me torno um enigma indecifrável aos olhos dos outros — e às vezes até aos meus. Leia também: Dia do Orgulho Autista: O Que Realmente Celebramos É curioso como a sociedade tolera melhor o sofrimento…
Dia do Orgulho Autista: O Que Realmente Celebramos
Hoje, 18 de junho, é celebrado o Dia do Orgulho Autista. Para quem vê de fora, talvez pareça contraditório: como alguém pode sentir orgulho de um transtorno? De fato, em sã consciência, ninguém se orgulha de viver com dificuldades sensoriais, sociais ou cognitivas. O orgulho que se celebra hoje, portanto, não é o da condição em si, mas da resistência. É a afirmação da vida, da dignidade, da permanência diante de um mundo estruturalmente capacitista. Leia também: Liberdade Autista: Busca pela Autenticidade Esse dia nasceu da necessidade de contar outras histórias — histórias que por muito tempo foram silenciadas, distorcidas ou ignoradas. A celebração é uma espécie de grito coletivo…