O Silêncio das Amizades que Nunca Vieram
Uma das maiores dores silenciosas entre pessoas autistas é a ausência de amizades verdadeiras. Não se trata apenas de não ser querido ou de não estar cercado por gente; trata-se de nunca ter, de fato, experimentado a cumplicidade mútua, aquela que nasce da troca de dores, segredos, medos e sonhos. Amizade, em sua essência mais profunda, é uma forma de abrigo onde duas verdades se encontram e escolhem permanecer. Para muitos autistas, essa casa nunca foi construída — ou foi, e rapidamente demolida. A psicologia das relações humanas mostra que a amizade depende de abertura emocional, reciprocidade e tempo. No entanto, para pessoas autistas, a abertura emocional é um processo…
Não Sou Antissocial: Apenas Não Sei Chegar Até Você
Durante boa parte da minha vida ouvi, direta ou indiretamente, que eu era “antissocial”. Parecia ser a explicação automática para meu silêncio, meu isolamento, minha dificuldade em interagir. Mas hoje, depois de muito aprender sobre mim mesmo e sobre o espectro autista, posso afirmar com segurança: eu nunca fui antissocial. Eu sou associal — e há uma diferença gigantesca nisso. Ser antissocial não tem nada a ver com o que eu sou. Antissocial é um transtorno de personalidade, muitas vezes associado à psicopatia, com traços de manipulação, desrespeito às regras e até mesmo violência. Essas pessoas rejeitam o convívio social por hostilidade ou desprezo. Leia também: Meu Olhar Autista Sobre…
Meu Olhar Autista Sobre Datas Comemorativas
Há algo que há muito tempo carrego dentro de mim e que, aos poucos, fui aprendendo a aceitar — e agora sinto que é hora de expressar isso com clareza para quem convive comigo. Trata-se da minha relação com datas comemorativas, especialmente aniversários. Talvez algumas pessoas já tenham percebido pelo meu comportamento, por comentários nas redes sociais ou por meu silêncio em certas ocasiões. Outras, no entanto, ainda estranham — e até se entristecem — com o que vou dizer aqui: para mim, a maioria das datas comemorativas não faz sentido algum. Leia também: Flerte: Um Desafio Autista Antes que alguém pense se tratar de uma crise existencial, ou de…
O Peso do Pecado e a Leveza da Graça
Muitos de nós fomos ensinados — ou deduzimos sozinhos — que Deus, diante do nosso pecado, se comporta como alguém profundamente emocional, como se sentisse mágoa à nossa maneira: vai para um canto, abaixa a cabeça, derrama lágrimas e sofre. A imagem é comovente: um Deus eterno, santo e majestoso, abatido pela miséria da criatura. Mas ao mesmo tempo, essa imagem é perigosa. Ela reduz Deus ao nosso tamanho e transforma a tragédia do pecado humano em um drama afetivo divino. Não é isso que a Bíblia ensina. Leia também: Por que a Graça Redentora Anula as Consequências do Pecado Sim, a Escritura nos diz que Deus se entristece com…
Racismo na Igreja: O Pecado (Quase) Silenciado
Há um silêncio cúmplice que ecoa nos púlpitos das igrejas evangélicas brasileiras. Um silêncio que não é de reverência, mas de omissão. Um silêncio quase ensurdecedor diante do clamor de irmãos e irmãs que carregam na pele a marca de uma cor que ainda hoje é marginalizada, ignorada, agredida. Falar sobre racismo na igreja não é trazer “pauta política” ao altar — é, antes, responder bíblica e profeticamente ao clamor da justiça. É cumprir o evangelho. Leia também: Blackface: A Arte da Humilhação Infelizmente, quando se menciona racismo em muitos ambientes evangélicos, logo surgem vozes defensivas: “isso é lacração”, “isso é marxismo”, “isso é ideologia”. Mas o que deveria ser…
Igreja, Deficiência e o Grito Silenciado – Final 2
Parte Final 2 – O Pecado do Capacitismo no Púlpito A dor de quem vive com uma deficiência, ou de quem cuida com amor e sacrifício de alguém com transtornos mentais ou físicos, não deveria encontrar eco em palavras de condenação, suspeita ou desprezo nos púlpitos. Mas encontra. Repetidas vezes. Em igrejas lotadas, em lives vistas por milhões, em canais de YouTube com dezenas de milhares de seguidores. O grito de quem sofre é silenciado por vozes que deveriam proclamar cura, acolhimento e verdade. Essa realidade dolorosa nos obriga a fazer uma análise dura, crítica, teológica e profética: a Igreja brasileira precisa romper com o pecado do capacitismo. O capacitismo…