Por que você não leu?

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Eu já tentei falar. De verdade. Tentei dizer nas entrelinhas de uma conversa qualquer, com aquelas palavras que vão só até a superfície, sem tocar o fundo. Não é fácil falar de mim, expor o que carrego por dentro. Cada luta, cada dificuldade e, principalmente, essa deficiência que me acompanha, faz sombra na minha comunicação. No entanto, quando as palavras não encontram o caminho da fala, elas se aconchegam nas páginas. A escrita se tornou o lugar onde posso dizer o que não consigo dizer cara a cara. É o meu jeito de socializar sem socializar, de me abrir sem abrir a boca.

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Escrevi textos sobre autismo, sabe? E foram muitos. Estão espalhados nas redes, em blogs, e até mesmo em conversas que nunca tivemos. Mas a questão que não me sai da cabeça é: por que você não leu? Não estou esperando que você se torne um especialista em autismo, longe disso. Nem que compreenda cada detalhe, cada nuance. Só queria que você entendesse um pouco mais sobre como é viver dentro desta mente, com essa rotina, com esse sofrimento que, ainda que não seja especial, é o meu.

Talvez você ache que já conversamos o suficiente, mas pense bem: quantas vezes eu realmente me abri para você? Quantas das nossas conversas foram pessoais de verdade? Para mim, isso é raro. Fazer amizades sempre foi um desafio. Não é só a dificuldade de chegar até as pessoas, mas até ir à casa dos meus próprios pais já me exige esforço. No trabalho, os dias podem passar sem que eu troque uma única palavra com alguém. E, por favor, não entenda isso como uma cobrança ou uma acusação. Não estou aqui para apontar dedos. Estou apenas dizendo que meus sentimentos, aqueles que ficam presos aqui dentro, escapam nos textos que escrevo.

Se você quer realmente me conhecer, se quer saber mais do que esse sorriso meio sem jeito ou as respostas automáticas, tudo o que sou está ali, nas palavras que já deixei pelo caminho. E se alguma vez você quiser conversar comigo de forma mais profunda, o material está disponível. Está nas páginas, nas postagens, nos artigos.

Eu sei que não sou bom em “regar” amizades como as pessoas fazem. Sou agradável, tento ser, e quando amo, amo de verdade, com toda a intensidade que cabe em mim. Mas eu sei que às vezes não preencho as expectativas. Sei que deixo a desejar naqueles pequenos gestos que, para muitos, são naturais. Mas o que posso te prometer é que sou fiel. Que há muito em mim para compartilhar, mesmo que eu não saiba exatamente como começar a conversa.

Então, se você me ama, ou quer me conhecer um pouco melhor, tire um tempinho para ler sobre mim. Está tudo lá.

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Paulo Freitas

Paulo Freitas

Paulo Freitas é teólogo, filósofo, professor e presbítero. Autista, escreve sobre fé, fragilidade, dor, neurodiversidade e tudo o que nos torna profundamente humanos.

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