Crítica
A Identidade Distorcida da Fé Tupiniquim
A igreja evangélica brasileira vive uma curiosa crise de identidade histórica e teológica. Não sabe se é Israel ou se é Roma. E, no meio desse limbo, tenta ser ambos — um híbrido improvável entre o judaísmo veterotestamentário e a Idade Média eclesiástica. É um caso fascinante de anacronismo espiritual, uma viagem no tempo que ignora dois mil anos de cristianismo para estacionar entre Moisés e Tomás de Aquino, sem jamais chegar a Cristo. Leia também: A Sombra do Dominionismo: Desvendando a Teologia do Domínio no Brasil O flerte com o judaísmo antigo já se tornou um relacionamento sério. É o amor platônico da igreja brasileira. Uma paixão que não…
O Evangelho e a Favela: Uma leitura do Texto “Igreja na favela não dá”, de Luiz Sayão
“Quando alguém se converte, muda de vida e sai da favela.”Assim afirmou, com convicção, o interlocutor de Luiz Sayão, no texto publicado em formato de carrossel digital com o título provocativo: “Igreja na favela não dá” (Texto na íntegra no final deste artigo). Diante de tal afirmação, o coração que crê e pensa não pode permanecer em silêncio. Há, sim, elementos de profunda verdade no texto de Sayão — e, com justiça, eles precisam ser reconhecidos. No entanto, há também ambiguidades sérias, falsos silogismos e riscos teológicos que não podem ser ignorados. Pior ainda: há a reprodução inconsciente de um imaginário profundamente elitista e meritocrático que, se não for confrontado…
O Amor, o Vaso e a Vaidade
O amor, esse verbo tão conjugado nas músicas, nos púlpitos, nos stories e nos sermões de domingo, anda meio prostituído — não no sentido de que foi violentado, mas no sentido de que se vende fácil por aplausos, curtidas e aprovação moral instantânea. Leia também: A Era do Eu Inchado: Identidade Inflada e a Vacuidade do Ser Vivemos dizendo que sabemos amar, como se amar fosse simplesmente não matar, não estuprar ou dar bom dia no elevador. Confundimos afeto com gentileza, fidelidade com presença, altruísmo com marketing de si mesmo. Pais dizem que batem por amor, e filhos crescem confundindo dor com cuidado. Cônjuges traem em nome de um amor…
Alienígenas Antrópicos e Outras Ficções de Espelho
Hollywood tem uma fixação adorável e meio infantil com alienígenas. Sempre que um novo filme de invasão chega às telonas, já sabemos o que esperar: seres verdes, cabeçudos, com olhos grandes e pretos (provavelmente míopes de tanto olhar para a Via Láctea) ou criaturas gosmentas e hostis que falam uma língua gutural e esquisita — algo entre Klingon e mau humor matinal. Leia também: Humor Sem Freios: O Stand-up e a Parede da Lei Mas o que realmente me intriga não são as naves em forma de disco, nem os raios desintegradores ou os planos mirabolantes para dominar Nova York (sempre Nova York, como se os ETs tivessem uma obsessão…
Quem Tem Medo de Karl Marx?: Crítico ou Bicho-Papão
“A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo.” — Karl Marx É comum, nos meios cristãos mais conservadores, ouvir que Karl Marx deve ser evitado como um bicho-papão ideológico. Há quem o trate como uma ameaça à fé cristã, um ícone ateísta cuja missão seria destruir tudo o que diz respeito a Deus. Mas será que essa percepção é justa, ou é fruto de um mal-entendido profundo? Quem tem medo de Karl Marx — e por quê? Leia também: O Mito do Racismo Reverso Antes de qualquer…
Uma Teologia do Assombro e Outras Assombrações
Sempre achei curioso — e, confesso, divertido — como certos medos atravessam os séculos intactos. Desde criança, filmes de terror me pareceram uma deliciosa mistura de drama e comédia, com pitadas generosas de suspense e aquele arrepio na espinha que, paradoxalmente, nos faz sentir vivos. Enquanto uns correm para a luz, eu me sentava confortavelmente na penumbra da sala, rindo e me assustando com fantasmas, monstros e demônios de papelão. E de algum modo, desde ali, já construía minha teologia, mesmo sem me dar conta disso. Leia também: De Onde Vem Minha Teologia O curioso, no entanto, é que enquanto eu me divertia, muitos irmãos e irmãs na fé torciam…