Ontem, ao navegar pelas redes sociais, me deparei com uma enxurrada de postagens indignadas de evangélicos. O motivo? Drag queens participaram da abertura das Olimpíadas na França, encenando a icônica Santa Ceia de Leonardo da Vinci. Sim, isso mesmo. Drag queens interpretando uma obra criada por um homem homossexual. E não, não é sobre as Olimpíadas (lembram do Olimpo?) que quero falar, mas sobre a hipocrisia e o ódio destilado pelos evangélicos.
Para começar, é essencial entender o contexto da obra original. Leonardo da Vinci, além de ser amplamente aceito como homossexual, criou a Santa Ceia como uma crítica ao cristianismo de sua época. A própria disposição dos apóstolos, todos sentados do mesmo lado da mesa, já sugere uma sátira. Quem, em um banquete, se sentaria dessa forma? Sem mencionar a figura controversa que muitos interpretam como Maria Madalena encostada no peito de Jesus, e o estilo europeu da pintura que apagou todas as características culturais judaicas do primeiro século.
Agora, vamos ao cerne da questão. A defesa ferrenha dos evangélicos dessa representação europeizada, já herética por si só, é um paradoxo em si. Esses mesmos evangélicos que defendem a pureza da fé cristã, agora se levantam para proteger uma obra que, de muitas maneiras, subverte os próprios valores que eles dizem defender. Isso não é defesa da fé. Isso é pura hipocrisia.
E qual é o verdadeiro motivo dessa indignação? É o ódio e o desprezo pelos homossexuais, disfarçados de zelo religioso. É a incapacidade de aceitar que a arte, em todas as suas formas, tem o poder de questionar, desafiar e, sim, até satirizar crenças estabelecidas. É a recusa de reconhecer que o mundo é vasto e diverso, e que essa diversidade inclui a existência e expressão de pessoas LGBTQ+.
Eu sou a favor de um mundo mais cristão, no sentido mais puro do termo. Um mundo onde o amor, a compaixão e a aceitação são os pilares. Mas quero passar longe de um mundo evangélico que destila ódio e se apropria de todo e qualquer traço cultural para justificar seu desprezo pelos outros. A verdadeira heresia não está nas drag queens encenando a Santa Ceia, mas naqueles que, em nome de Cristo, propagam ódio e intolerância.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.