Quatro Motivos, um Chamado

No vasto campo dos chamados, o ministério pastoral muitas vezes se confunde com os desejos humanos, revelando a luta constante entre a carne e o espírito. Há quatro motivos que frequentemente conduzem o coração de quem aspira ao púlpito. Três deles, enraizados no ego, e o quarto, no Reino.

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O primeiro motivo é o dinheiro. A tentação de usar o sagrado para encher os próprios bolsos, não é nova. A história está repleta de exemplos de homens que trocaram o altar pelo tesouro, disfarçando ganância de benção. O ouro, que deveria brilhar nas mãos dos pobres e necessitados, ofusca o coração e transforma o servo em um mercenário da fé.

O segundo é o poder. Muitos são seduzidos pela autoridade que o ministério parece oferecer. Vestem-se de autoridade, mas são internamente governados pela tirania da ambição. O cajado de pastor, que deveria guiar e consolar, torna-se um cetro de opressão, usado para dominar as ovelhas em vez de servi-las. Assim como os reis de Israel, esquecem-se de que o verdadeiro pastor é aquele que lava os pés.

O terceiro motivo é o sexo. O sagrado mistério da união entre homem e mulher, criado por Deus para a glória de Sua criação, é distorcido por alguns para a satisfação desmedida dos próprios desejos. E o pior, muitos se escondem sob uma máscara de moralidade, renegando o prazer no casamento, enquanto outros abusam dessa dádiva, escravizando o cônjuge e fazendo do leito conjugal uma arena de poder e controle.

Mas há um quarto motivo, o único digno do verdadeiro pastorado: o Reino de Deus. Esse chamado é distinto, puro, e exclui automaticamente os três anteriores. Quem vive para o Reino, abraça a pobreza de espírito, reconhecendo que todo dinheiro é apenas um recurso para o cuidado dos necessitados, e todo poder é uma oportunidade de servir, e não de ser servido. A glória de Deus no casamento é vivida em plenitude, honrando o cônjuge com amor e respeito, sem jamais perverter aquilo que Deus criou para ser belo e santo.

Há quem possa tentar justificar os primeiros motivos, alegando que dinheiro, poder e sexo, se usados para a glória de Deus, podem ter seu lugar. Mas o equívoco está em não perceber que esses desejos, como nós os concebemos, nascem do pecado. O dinheiro e o poder, na forma em que os buscamos, são produtos da corrupção humana, enquanto o sexo, dentro dos parâmetros divinos, é a única dádiva pura que permanece entre nós.

Portanto, o verdadeiro pastor, aquele que vive para o Reino de Deus, não é guiado pelos três primeiros motivos. Ele compreende que o dinheiro é para a caridade, o poder é para o serviço, e o prazer é para o amor dentro do casamento. Somente assim, o ministério deixa de ser um fardo ou uma oportunidade de autopromoção e torna-se, finalmente, o que Deus sempre quis: uma expressão do Seu Reino, manifestada no cuidado, na justiça e no amor.

E assim, o ministério é restaurado ao seu verdadeiro propósito: ser uma extensão do coração de Deus, onde o servo caminha à sombra do Pastor Supremo, Jesus Cristo, que veio não para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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