A Beleza da Simplicidade na Vida Cristã

Vivemos em um mundo que anseia por ideais inatingíveis, um lugar onde a maioria espera ser ou ter aquilo que continua para ser conquistado. Este anseio não é alheio ao ambiente da fé. Dentro da igreja, muitos cristãos vivem na expectativa do que ainda não possuem, na algibeira do ainda por vir. Esperam algo extraordinário, clamam por manifestações espetaculares, desejam o que há de sobrenatural como um selo de que Deus está ali. Aparentemente, ninguém quer se alegrar com o ordinário, com aquilo que se repete dia após dia e parece pouco digno de nota.

Contudo, na fé cristã há uma beleza inigualável na previsibilidade das promessas de Deus. Por exemplo, a vinda do Messias, um evento esperado e previsto por séculos; e, da mesma forma, o retorno prometido de Jesus, a esperança da nova vida que Ele nos deu. O próprio Deus fez questão de deixar claro tudo o que precisávamos saber para não sermos enganados e para podermos viver com confiança e paz. Mesmo assim, muitos preferem as incongruências das especulações escatológicas, tentando adivinhar o fim dos tempos como quem busca descobrir o que está além do véu, antes da hora.

Olhemos, por exemplo, para os dons espirituais. Há dons que são tranquilos e simples, como servir, liderar, contribuir generosamente, amar com sinceridade. São dons que demonstram a vida do Espírito de maneira prática e cotidiana. Todavia, muitos parecem mais interessados nas luzes cintilantes dos dons mais evidentes, como a profecia, as línguas, as curas, buscando neles um sinal visível de poder. Não que esses dons sejam desnecessários ou menos valiosos, mas há uma predisposição perigosa em desprezar o que é simples em favor do que é espetacular.

E o ministério? Quantos de nós esquecemos que todos podemos evangelizar, cuidar uns dos outros, ensinar, exortar e consolar sem precisar de um título ou função específica? Todos podemos, e devemos, viver o ministério de Cristo em nossas vidas, não importando se somos reconhecidos por um cargo eclesiástico ou não. Mas muitos preferem o poder ao serviço, preferem o título ao toque compassivo que Jesus ensinou.

No entanto, a vida cristã pode ser simples e, ao mesmo tempo, extraordinária. Pode ser pacata e ainda assim poderosa. Seguir a Jesus não precisa ser complicado. O que Ele nos chamou a fazer é claro: ser discípulo é seguir o Mestre, amar como Ele amou, servir como Ele serviu. Não é a glória da grande realização que nos torna discípulos fiéis, mas a disposição diária de carregar nossa cruz, de viver a fé no cotidiano, de sermos pessoas comuns que acreditam em um Deus extraordinário.

Certa vez, Jesus chamou seus discípulos e lhes disse: “Assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:28). Ali estava a essência de seu ministério: não o espetáculo, mas o serviço. Não o poder terreno, mas o sacrifício. Se pudermos enxergar a beleza no que parece ordinário, talvez percebamos que ali reside a essência do Reino de Deus. Pois o Reino está no pão que se parte, na água que sacia a sede, na mão que se estende ao aflito.

A beleza do comum, a glória do simples. Eis o chamado de Cristo: seguir, amar e servir. Não precisamos das luzes, apenas precisamos d’Ele.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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