A imagem retrata um grupo de pessoas envolvidas em atividades agrícolas e intelectuais, evocando um ambiente rural e de trabalho coletivo. No primeiro plano, dois homens estão ajoelhados no solo, plantando mudas com grande atenção e esforço. Um deles veste uma camisa branca arregaçada, demonstrando dedicação ao trabalho braçal. Ao lado, uma mulher segura uma vara ou uma pequena árvore, enquanto outra lê um livro, sugerindo a combinação de conhecimento e prática. No centro da composição, uma mulher vestida de maneira elegante segura um prato e observa a cena com uma expressão serena e contemplativa. À direita, uma figura com um lenço vermelho segura uma cruz de madeira, simbolizando talvez fé ou um elemento religioso, enquanto um homem sentado escreve atentamente em um livro ou caderno, representando o registro do conhecimento ou da administração do trabalho. Ao fundo, a paisagem e o céu carregado de nuvens escuras criam uma atmosfera dramática, contrastando com a luz que ilumina os personagens, destacando seu esforço e propósito. A cena transmite uma mensagem de trabalho, fé e sabedoria, podendo sugerir uma reflexão sobre a relação entre a terra, o conhecimento e a espiritualidade.
Crônicas

A Medida do Fazer: Crítica e Complementaridade

Há uma linha tênue entre o fazer e o julgar. Uma linha que, quando cruzada, revela mais sobre quem critica do que sobre quem é criticado. Quantos de nós, em algum momento, não nos vimos diante do espelho da superioridade, achando que nosso fazer era maior, mais nobre, mais necessário? E, no entanto, quantas vezes esse mesmo espelho nos devolveu a imagem de alguém que, enquanto fazia uma coisa, deixava incontáveis outras por fazer?

A vida é um mosaico de ações e omissões. Quem planta uma árvore não está curando um doente. Quem escreve um poema não está construindo uma casa. Quem lidera uma nação não está alimentando um mendigo. E assim seguimos, cada um com seu quinhão de fazer e deixar de fazer. Mas eis que surge a armadilha: a ilusão de que nosso fazer é universal, absoluto, e que aqueles que não o compartilham estão, por definição, errados ou inertes.

Quantas vezes olhamos para o outro e pensamos: “Por que ele não faz o que eu faço? Por que não age como eu acho que deveria?” E, nesse questionamento, esquecemos que o outro pode estar fazendo algo que nós sequer enxergamos. Talvez ele esteja cuidando de um pai doente, lutando contra uma depressão silenciosa, ou simplesmente tentando sobreviver em um mundo que exige demais e dá de menos. Cada um carrega seus limites, suas aptidões, suas batalhas invisíveis. E, no fim, todos somos complementares.

A verdade é que, se todos fizessem o mesmo, o mundo seria uma monocultura estéril. A beleza está na diversidade de ações, na pluralidade de dons. Alguns farão mais, outros farão menos, e alguns não farão nada — e ainda assim, precisarão que outros façam por eles. Isso pode parecer injusto, especialmente em um mundo que idolatra a produtividade e o esforço individual. Mas a vida não é uma competição; é uma teia de interdependências.

E, no entanto, há aqueles que transformam o fazer em um jogo de poder. São os que ocupam posições de autoridade, que deveriam servir, mas que, muitas vezes, são os mais servidos. Eles criticam os que “não fazem nada”, enquanto usufruem do trabalho alheio. Essa distorção é antiga, mas não menos repugnante. Jesus, em sua sabedoria, já alertava: “Entre vocês não será assim.” No Reino de Deus, os maiores são os que servem, os que se abaixam, os que reconhecem que ninguém é dono de todo o fazer.

E talvez seja aí que encontremos a chave: no servir sem julgar, no fazer sem desdenhar. Porque, no fim das contas, o que importa não é quantas coisas fazemos, mas com que amor as fazemos. E, se há algo que todos podemos fazer, é reconhecer que o outro, mesmo quando parece não fazer nada, está, de alguma forma, contribuindo para o todo. Afinal, até a quietude tem seu lugar no universo.

Que possamos, então, parar de medir o valor alheio pela régua do nosso próprio fazer. Que possamos enxergar, além das ações visíveis, as batalhas invisíveis, os limites ocultos, as dores silenciosas. E que, ao invés de julgar, possamos complementar. Porque, no fim, todos estamos fazendo algo — mesmo que seja apenas tentar sobreviver em um mundo que, às vezes, parece nos pedir demais.

E, nesse fazer coletivo, talvez descubramos que o verdadeiro sentido da vida não está em fazer tudo, mas em fazer o que podemos, com amor, e deixar que os outros façam o mesmo.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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