Dia da Mentira: Entre Teologia e a Alegria Proibida

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No princípio, era o Verbo. E o Verbo é a Verdade. Mas, em algum momento da história, alguém decidiu que a Verdade precisava de um dia de folga. Assim nasceu o 1º de abril, o Dia da Mentira (Mas será que foi isso mesmo?), uma data que, para alguns, é pecado; para outros, poesia. E, para muitos evangélicos brasileiros, é uma espécie de abominação moderna. Mas será que rir de uma mentirinha inofensiva é realmente tão grave quanto pregar fake news nos outros 364 dias do ano?

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Na Idade Média, dar risadas já foi considerado pecado. Sim, você leu certo: gargalhar era coisa do diabo. Os monges medievais acreditavam que a alegria excessiva distraía a alma da contemplação divina. Hoje, rimos disso — ironicamente, com gargalhadas. Mas será que não estamos repetindo a mesma lógica ao demonizar o 1º de abril? Afinal, se a Bíblia condena mentiras (e condena mesmo, veja Êxodo 20:16), será que uma brincadeira leve, onde todos sabem que é “mentira”, se enquadra no mesmo nível de uma falsidade maldosa?

Vamos pensar juntos: a Bíblia também proíbe misturar tecidos (Levítico 19:19) e dá instruções específicas sobre como cortar o cabelo e fazer a barba (Levítico 19:27). No entanto, poucos evangélicos hoje se recusam a usar camisetas de algodão e poliéster ou deixam de frequentar o barbeiro. Por que, então, o 1º de abril é tratado como um pecado capital? Será que não estamos confundindo mentira com licença poética?

O Dia da Mentira não é sobre negar a verdade ou distorcer a realidade. É sobre ironizar a própria mentira, sobre brincar com o absurdo. É um dia em que as pessoas criam histórias mirabolantes, não para enganar, mas para divertir. É uma espécie de carnaval da linguagem, onde a mentira vira arte, e a arte vira riso. E, se há algo que a Bíblia valoriza, é a alegria. Salomão escreveu: “O coração alegre aformoseia o rosto” (Provérbios 15:13). Por que, então, temos tanto medo de rir?

Aqui no Brasil, muitos evangélicos aprenderam a levar tudo a sério demais — exceto, claro, quando se trata de espalhar fake news sobre seu político preferido. Nesses casos, a mentira vira virtude, e a consciência fica em standby. Mas, no 1º de abril, a hipocrisia vira julgamento. É curioso como um dia dedicado a brincadeiras leves pode ser tão condenado, enquanto mentiras sérias, que ferem e dividem, são tratadas como “defesa da fé”.

Não nos enganemos: não estamos falando de cometer crimes, de fazer maldades ou de promover ilegalidades. Estamos falando de diversão casual, de risos que não machucam ninguém. O 1º de abril deveria ser um dia mais alegre, mais simbólico, mais humano. Afinal, se Deus nos deu a capacidade de rir, por que não usar isso para celebrar a leveza da vida?

Então, vamos maneirar. O 1º de abril não é um convite ao pecado, mas uma oportunidade para lembrar que, às vezes, a vida precisa de um pouco de humor. E, se há algo que a teologia deveria nos ensinar, é que a graça de Deus é grande o suficiente para cobrir até nossas brincadeiras bobas. Afinal, como diz Eclesiastes 3:4, há tempo de chorar e tempo de rir. E, no 1º de abril, o tempo é de rir — sem culpa, sem medo, sem julgamentos.


Epílogo:
E, se você leu até aqui e ainda acha que o 1º de abril é pecado, relaxe. Este texto pode ser apenas uma brincadeira. Ou não. Quem sabe? Afinal, hoje é Dia da Mentira. 😉

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Paulo Freitas

Paulo Freitas

Paulo Freitas é teólogo, filósofo, professor e presbítero. Autista, escreve sobre fé, fragilidade, dor, neurodiversidade e tudo o que nos torna profundamente humanos.

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