O Dízimo: Entre a Lei e a Liberdade

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Dizimar ou não dizimar, eis a questão. O dízimo tem uma longa história junto à fé, remontando aos tempos de Abraão, que dizimou, mas apenas uma vez (Gênesis 14:20). Depois, na Lei mosaica, o dízimo tornou-se uma obrigação para todo judeu (Levítico 27:30), uma parte intrínseca do culto e da vida religiosa. Contudo, os fariseus, em sua busca por uma religiosidade meticulosa, extrapolaram a exigência e definiram o dízimo até dos mínimos detalhes, como das hortaliças do quintal (Mateus 23:23).

Jesus falou do dízimo, não para avalizá-lo, mas para questionar a hipocrisia dos fariseus. Ele criticou a ênfase deles em práticas externas, enquanto negligenciavam “os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade” (Mateus 23:23).

Mas e a igreja primitiva, os discípulos de Jesus, dizimaram? Não! Pelo menos até o século terceiro, a prática do dízimo não era uma norma. A igreja primitiva era conhecida por exceder em suas ofertas de misericórdia e caridade (Atos 2:44-45; 4:32-35). Não havia uma lei de dízimo imposta entre eles, até que a igreja se uniu ao estado e terceirizou o trabalho pastoral. A partir daí, tornou-se necessário dizimar para pagar o salário do pastor, os cuidados com o templo e tantas outras despesas.

Então, dizimar é errado? Não! Dizimar é até bíblico, mas não é o que se espera da igreja de Cristo. Jesus espera mais de seus discípulos do que a mera obrigação; Ele deseja maturidade espiritual. Não quer que ninguém pague “cachê” para sua noiva, mas espera que haja cuidado com cada um dos seus filhos, os pequeninos (Mateus 25:40). Jesus espera compromisso, não cerimônia. O dízimo de dez por cento é apenas uma pequena fração do que podemos oferecer, mas Ele não busca dinheiro, e sim compaixão (Mateus 9:13).

O discípulo de Cristo aprende a sair do legalismo e viver a Lei do Espírito, que é liberdade e vida (Romanos 8:2). É uma jornada de amadurecimento, onde a generosidade flui do amor genuíno, não da imposição. Que possamos, portanto, entender que nosso chamado é para uma vida de compaixão e cuidado mútuo, refletindo a graça que recebemos.

Dizimar ou não dizimar? Talvez a questão não resida no ato em si, mas na atitude do coração. Que sejamos generosos como nosso Mestre, que deu tudo por amor a nós.

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Paulo Freitas

Paulo Freitas

Paulo Freitas é teólogo, filósofo, professor e presbítero. Autista, escreve sobre fé, fragilidade, dor, neurodiversidade e tudo o que nos torna profundamente humanos.

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