A imagem retrata uma cena crítica e simbólica do que parece ser uma igreja transformada em espetáculo. No centro, sobre o púlpito, está um homem vestido como um palhaço, fazendo gestos dramáticos como um pregador. O ambiente é uma tradicional igreja cristã com vitrais, altar e bancos de madeira, mas completamente distorcida em sua função original. O chão está coberto por lixo de pipoca e outros restos de lanche, como em um cinema ou circo. Os fiéis, em vez de orar ou prestar atenção ao sermão, estão com celulares erguidos, tirando fotos ou gravando vídeos do palhaço-pregador — evidenciando uma cultura de espetáculo, vaidade e culto à imagem. A atmosfera é escura, com iluminação teatral, criando um contraste entre a solenidade arquitetônica da igreja e a banalização de seu uso. A cena é uma crítica visual contundente ao que muitos veem como a transformação da fé cristã em entretenimento vazio e performático.
Crônicas

O Eu-angelho Segundo o Picadeiro

E subiram ao púlpito como quem sobe ao palco. Acenderam os refletores, ajustaram o microfone, e ao fundo tocava uma trilha sonora épica. Começa o espetáculo ao eu-angelho: o culto do coach ungido, do pastor mirim com milhões de seguidores, do influencer convertido na última live, devidamente batizado em águas digitais.

A comunidade evangélica brasileira virou trending topic, e não foi por amor ao próximo, mas por devoção à próxima polêmica. A política foi elevada ao altar, onde o mandamento do amor cedeu lugar ao ódio justificado por versículos fora de contexto. Amar o inimigo? Só se ele votar certo. O resto é “guerra espiritual”.

Enquanto isso, os púlpitos se tornaram vitrines de autoajuda, onde Deus virou um personal trainer celestial, treinando você para ser o “melhor de si”, mesmo que isso signifique passar por cima do irmão caído, porque o sucesso não espera e a bênção é individual. Sofrimento? Só se for do outro. Jesus chorou, mas o crente moderno bloqueia quem lamenta.

A teologia do momento é feita de cores vibrantes, frases de efeito e poses instagramáveis. Já não se fala de arrependimento, mas de “recomeços”. O pecado virou “erro de percurso”, e a santidade… bem, ela não engaja tanto quanto uma viagem missionária para Dubai.

E surgiram os movimentos. Os Legendários, os Machos da Montanha, os Homens de Verdade com suas barbas bem aparadas e discursos fossilizados, tentando resgatar uma masculinidade bíblica que nunca foi a de Cristo, mas a de Sansão, que no fim das contas caiu pelo próprio ego. A virilidade agora se mede em curtidas, não em frutos do Espírito.

E a igreja? Virou banco. Literalmente. Abrem agências, vendem criptomoedas “abençoadas” e inventam moedas digitais “santas”. Afinal, se o Reino de Deus é justiça, paz e alegria, por que não uma boa taxa de retorno em nome do Pai, do Filho e do lucro líquido?

E o que dizer dos pequenos ungidos? Pastores mirins, mal saíram das fraldas e já amarram versículos com autoridade de quem mal aprendeu a conjugar o verbo “discipular”. Um deles, ousadamente, repreendeu quem disse que “só Jesus é o meu pastor”. Claro, numa era em que a humildade é opcional e a vaidade é vestida com vestes talares.

E o povo? Ri. Zomba. Compartilha. A ridicularização dos evangélicos se tornou comum, não por perseguição, mas por escândalo. Os discípulos de Cristo agora disputam espaço com os discípulos do algoritmo. E os fariseus do século XXI, bem vestidos e bem seguidos, batem palmas enquanto dançamos no picadeiro da fé performática.

Mas entre o riso e a lágrima, ainda resta esperança. Porque o Evangelho do Reino — aquele que nos chama à cruz, à renúncia, à justiça, ao amor — esse não será ridicularizado. Ele permanece, ainda que os evangélicos se tornem risíveis. Cabe a nós descer do palco, rasgar os roteiros e voltar ao Caminho. Talvez, só talvez, ao deixarmos o circo, possamos reencontrar o Reino.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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