O Movimento da Fé: Um Chamado ao Outro

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A fé cristã não é um bastião de individualismo. Ela respeita o espaço privado, mas floresce na causa do outro, na necessidade do próximo. Tiago questiona de maneira incisiva: “Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e necessitarem do alimento cotidiano, e qualquer de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?” (Tiago 2:15-16). João ecoa esse sentimento com uma dureza que ressoa na alma: “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1 João 3:17).

A fé, com todas as suas complexidades teológicas, apresenta-se de forma simples em sua prática. Ela precisa estar atrelada à caridade, como Paulo bem disse: “Se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize” (1 Coríntios 8:13). A fé inicia-se no íntimo do indivíduo, mas só encontra sua plenitude na comunidade. Por isso, Jesus fundou a igreja, o Seu corpo, onde cada um se reúne, unido, em comunhão. A fé não pode ser afirmada na solidão, sem o outro, sem dar e receber, sem doar e fazer com que o outro também se desenvolva.

A fé é, de certa forma, política no sentido original da polis — da cidade, da coletividade. É um movimento contínuo, jamais letárgico, sempre em prol do próximo e nunca em benefício próprio. Paulo, ao escrever aos Gálatas, nos lembra: “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gálatas 6:2).

No Sermão da Montanha, Jesus nos exorta a sermos a luz do mundo e o sal da terra, a iluminar e a dar sabor ao viver dos outros (Mateus 5:13-16). Ele nos chama a uma fé ativa, que se manifesta em obras, como expressou em Mateus 25:35-36: “Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.”

A verdadeira fé é um fluxo constante de dar e receber, de amor que se derrama em ações concretas. Não é possível afirmar a fé e viver isolado, sem o envolvimento e o desenvolvimento do próximo. A fé é, em sua essência, comunhão, partilha e movimento em direção ao outro.

Em um mundo que constantemente prega o individualismo e a autossuficiência, a fé cristã nos convida a um caminho oposto, um caminho de entrega, de serviço e de amor incondicional. Assim, a fé se torna uma dança harmoniosa, onde cada passo é dado com o intuito de elevar o outro, e juntos, construímos a sinfonia do Reino de Deus, onde o amor e a caridade são as notas que compõem a melodia da vida.

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Paulo Freitas

Paulo Freitas

Paulo Freitas é teólogo, filósofo, professor e presbítero. Autista, escreve sobre fé, fragilidade, dor, neurodiversidade e tudo o que nos torna profundamente humanos.

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