A imagem mostra uma cena urbana em tons de cinza, transmitindo uma atmosfera fria e mecânica. Várias pessoas caminham apressadas em diferentes direções, com rostos desfocados ou apagados, o que simboliza a perda de identidade e individualidade. Todas parecem alheias umas às outras, como engrenagens em movimento automático. Ao fundo, há um grande mural com a ilustração de uma paisagem natural, com árvores — um forte contraste com o concreto e a pressa ao redor. Diante dele, uma única figura está sentada em silêncio, imóvel, em postura contemplativa, sugerindo um momento de pausa e reflexão em meio ao caos produtivista. A imagem evoca exatamente o conflito entre o "fazer" frenético da vida moderna e a necessidade esquecida de simplesmente "ser".
Crônicas

O Peso do Fazer e o Esquecimento do Ser

Acordamos com pressa, dormimos com culpa. O tempo, esse senhor inflexível, nos arrasta como se fosse dono da nossa alma. Vivemos entre planilhas e postagens, entre tarefas e metas, entre agendas lotadas e cafés apressados. A vida, dizem, é movimento. Mas que tipo de movimento é esse que não nos permite parar?

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Na modernidade, a essência da vida foi sequestrada pelo fazer. Tudo gira em torno do produzir. Produzimos conteúdo, resultados, filhos, festas, memórias instantâneas — e esquecemos que viver não é uma função executiva. Tornamo-nos engrenagens bem lubrificadas de uma máquina que nunca para. O sistema nos sorri com dentes metálicos, e nós sorrimos de volta, crentes de que estamos indo bem. Mas para onde?

Alguns fazem para ter muito, outros para ter o mínimo — e ambos estão cansados. A meritocracia nos ensinou que o valor do ser humano está em sua utilidade, e então nos tornamos úteis até a exaustão. Trabalhamos para provar amor, produzimos para manter relações, mostramos o quanto fazemos para justificar por que ainda estamos aqui. “Eu sou pai, mas veja tudo o que eu faço pelos meus filhos.” “Sou esposa, mas veja o quanto eu produzo para nosso casamento.” Perdemos a graça de estar simplesmente presentes.

A espiritualidade virou também uma corrida. Cultos com agenda, orações que precisam ser performáticas, retiros com cronogramas, como se Deus também estivesse cansado de esperar e só gostasse de quem faz. Mas o Cristo que se retirava para orar, que parava para escutar, que chorava com os amigos e que andava entre lírios e oliveiras — esse Cristo parece cada vez mais distante da nossa fé apressada.

Não sabemos mais sentar em silêncio ao lado de quem amamos. Precisamos de trilha sonora, luzes baixas, jantar temático, palavras certas. Mas e o silêncio? E a escuta profunda? E o olhar que não exige performance? A vida não é um reality show de produtividade. Não há prêmio no fim, só a eternidade que, para alguns, será surpreendente porque não se mede em produtividade, mas em profundidade.

Fazer é importante, sim. Mas fazer sem ser é tornar-se ruído. O Reino de Deus não se edifica com barulho, mas com presença. Há mais eternidade no abraço calado de um pai cansado do que em mil palavras de um influenciador de fé.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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