
O Reino Que Não Cabe em Suas Prateleiras
Há quem insista em colocar Deus e seu Reino em caixas. Caixas com etiquetas sofisticadas: “Aqui habita o Deus evangélico”. Ou, quem sabe, “Deus, versão católica, agora com sete sacramentos”. Tem também quem prefira embalagens mais exóticas, com liturgias em latim, em hebraico ou em línguas angelicais. Cada qual tenta capturar Deus em seus frascos de doutrinas, credos e confissões.
Leia também: Hakuna Matata e o Reino de Deus
Mas há um problema. Deus não cabe. Nem nas caixas, nem nas prateleiras. Na verdade, ele nem sequer frequenta esses corredores. O Eterno não é evangélico, não é católico, nem ortodoxo, nem pentecostal, nem reformado. A bem da verdade, Deus nem religião tem.
Sim, é um escândalo. Sobretudo para quem transformou a fé em empresa e o Reino em franquia. Deus não se deixa domesticar por placas, CNPJs e estatutos sociais. Ele escapa. Escapa pelas frestas da institucionalização, foge sorrindo das mãos dos teólogos que pensam poder decifrá-lo, e ri dos pastores que, em suas oratórias inflamadas, juram representá-lo em horário comercial.
Quando Jesus disse que o Reino de Deus não vem com aparência exterior — que não se pode dizer “Ei, está aqui!” ou “Está ali!” — ele estava quebrando as pernas da religião. O Reino não tem sede, não tem templo, não tem altar fixo. O Reino não cabe na teologia sistemática nem se resume a um credo confessional. Ele é como o vento, que sopra onde quer.
O Reino de Deus não pertence ao cristianismo. E se isso te escandaliza, talvez você nunca tenha entendido o que Jesus quis dizer. O Reino não é patrimônio da Igreja — muito menos da sua. Não é extensão de denominações, nem apêndice de movimentos, nem refém das convenções.
O Reino é… justiça, paz e alegria no Espírito Santo. É semente que cresce no chão rachado da existência, sem pedir licença às cercas e muros da ortodoxia. É fermento escondido, que leveda tudo, até aquilo que os fiscais da fé julgam impuro. É pérola, é tesouro, é reviravolta, é contramão.
E, no entanto, este Reino que não cabe em lugar algum escolheu caber exatamente no coração humano. Não porque o homem o detenha, mas porque Deus quis. Um Reino que é coletivo, comunitário, mas que também pulsa, misteriosamente, dentro de cada um que se rende ao nome de Cristo.
O Reino está entre nós, e também dentro de nós. E ele continuará sendo eternamente maior do que qualquer teologia, qualquer dogma, qualquer denominação. Porque o Reino de Deus é, e sempre será, o Reino de Deus — e não o reino dos homens sobre Deus.
Views: 0
