Oração: O Contraditório Dom da Humildade

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Na quietude da solidão, onde o silêncio é mais eloquente do que as palavras, encontra-se a essência da oração. Ela é a expressão mais íntima de um coração que se humilha perante Deus. É no ato de orar que nos colocamos em nosso devido lugar: seres dependentes, frágeis, em busca do divino. Orar é reconhecer a nossa pequenez e a grandiosidade de Deus. É um momento em que o espírito se curva, não por imposição, mas por um reconhecimento voluntário de nossa própria necessidade.

Contudo, há um paradoxo intrínseco na oração. Muitos acreditam que, se não orarem, nada acontecerá. Este pensamento, carregado de superstição, coloca a oração como uma ferramenta mágica, um controle remoto do divino. Quando algo não dá certo, atribuem a falta de sucesso à ausência de oração ou à sua insuficiência. E assim, repetem frases como: “Eu orei, por isso Deus fez.” Neste discurso, há uma tentativa inconsciente de dividir com Deus o mérito das bênçãos recebidas, como se a oração fosse uma moeda de troca celestial.

Entretanto, a Bíblia nos ensina algo diferente. Deus conhece nossas necessidades antes mesmo de as pronunciarmos. Ele é um Pai amoroso que deseja o melhor para Seus filhos. Se Ele tem algo para nos dar, Ele o fará, independentemente de nossas preces. Então, por que orar? Será a oração um ato desnecessário? Longe disso. A oração é um dom precioso, concedido por Deus, que nos permite aproximar-nos Dele por meio de Cristo Jesus.

Orar é um privilégio sublime, uma dádiva imensa. É o canal pelo qual podemos derramar nosso coração diante de Deus, não com o intuito de persuadi-Lo ou de garantir a resposta dos nossos pedidos, mas pelo simples prazer de Sua companhia. A única oração que conta é realmente a intercessão do Espírito por nós, feita com gemidos inexprimíveis. Em outras palavras, é Deus orando a Deus.

Essa compreensão alivia enormemente nossas almas. Saber que é Deus quem intercede por nós nos permite apenas nos colocar em Sua presença. Nossa oração não é um sistema de pedidos ou um catálogo de compras divino, mas um meio de edificação pessoal e amadurecimento espiritual. Oro porque Deus quis primeiro se relacionar comigo; oro porque fui presenteado com o privilégio de estar diante do Senhor do Universo.

Assim, a oração, longe de ser uma transação, é a oportunidade de nos entregarmos totalmente a Deus, reconhecendo Sua soberania e amor, e desfrutando da comunhão com Aquele que é, em essência, o próprio Amor.

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Paulo Freitas

Paulo Freitas

Paulo Freitas é teólogo, filósofo, professor e presbítero. Autista, escreve sobre fé, fragilidade, dor, neurodiversidade e tudo o que nos torna profundamente humanos.

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