A imagem retrata uma cena serena e intimista de uma família reunida ao redor de uma mesa, em um ambiente rústico, iluminado suavemente pela luz natural que entra pela janela. A atmosfera remete ao estilo renascentista de Leonardo da Vinci, com tons terrosos e composição equilibrada. À mesa, uma mulher, uma jovem menina e dois homens compartilham um momento de refeição e conversa tranquila. Ao fundo, há uma lareira com uma cruz cristã em destaque, reforçando o aspecto espiritual da cena. Detalhes como os jarros de barro, as paredes de pedra, e a decoração simples sugerem um lar do campo em tempos antigos. Apesar de haver uma cesta com ovos coloridos no canto da sala, ninguém parece se importar com eles — todos estão focados uns nos outros, refletindo o verdadeiro sentido da comunhão e, possivelmente, o espírito da Páscoa cristã vivido no dia a dia.
Crônicas

Ovos, Coelhos e a Cruz: A Páscoa Aqui em Casa

“Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim…”.
Essa musiquinha infantil sempre me deixou embolado. Como assim coelhos trazem ovos? Tá, eu sei, já pesquisei, entendo a metáfora, o símbolo da fertilidade, da renovação e tudo mais. Mas mesmo assim, não me desce.

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A verdade é que, há tempos, essa comemoração virou só mais um evento capitalista — daqueles bem embalados pra vender chocolate caro. Aqui na cidade do interior, as lojas ficaram lotadas, gente correndo pra garantir seu ovo de Páscoa, como se a felicidade estivesse escondida dentro de uma casca de chocolate ao leite.

Nunca gostei muito disso. E olha que eu gosto de chocolate. Mas a festa… essa festa com seus coelhinhos sorridentes e sacolas cheias de ovos me parece sempre vazia. Descobri que, para muitos autistas, é só mais uma data no calendário. A lógica da coisa se perde (coelhos, ovos… sério?), e o barulho, as aglomerações, tudo isso soa como excesso, como caos. Aqui em casa, onde o autismo é presença certa e diária, a Páscoa de mercado não tem vez.

Foi só há alguns anos que passei a compreender o real sentido da Páscoa — não o comercial, mas o espiritual. Descobri que, para nós cristãos, ela é muito mais do que ovos e chocolates. A Páscoa, que começou como a celebração judaica da libertação do Egito, para nós tornou-se a celebração da verdadeira libertação — a do pecado, por meio do sacrifício do Cordeiro.

Cristo morreu e ressuscitou. Essa é a nossa passagem. Não de um deserto geográfico, mas de uma vida vazia para uma vida plena. Ressuscitamos com Ele para viver em novidade de vida. Então, aqui em casa, não esperamos uma data no calendário para celebrar. Páscoa, pra nós, é todo dia.

E se os coelhos ainda insistem em trazer ovos, que fiquem à vontade. Mas por aqui, ninguém se importa com eles. Todos nós estamos ocupados vivendo a vida dEle — em silêncio, às vezes em rotina, quase sempre em profundidade.

Porque no fim das contas, a verdadeira Páscoa não é doce como chocolate. É doce como graça

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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