Crítica à Série: Scorpion

A série Scorpion é um daqueles programas que você assiste várias vezes e, mesmo sabendo de todos os seus defeitos, ainda assim se emociona e se identifica com os personagens. Embora seja carregada de clichês, especialmente na forma como retrata a genialidade, é uma produção que consegue cativar – talvez justamente porque fala com quem muitas vezes não se vê representado na tela. Eu me vi em muitos dos personagens de Scorpion, não pela inteligência surreal, mas pelos traços antissociais e, mais especificamente, pelo autismo presente em alguns deles. O jeito desajeitado, a dificuldade de interagir socialmente, o foco em detalhes que os outros ignoram… Tudo isso está lá. Talvez por isso, apesar dos defeitos da série, eu continue voltando a ela repetidamente.

A trama gira em torno de uma equipe de gênios contratada por Cabe Gallo, um agente da Inteligência Interna que age como uma figura paterna para o grupo – especialmente para o líder, Walter O’Brien. Walter, com seu QI estratosférico de 197, é a encarnação do gênio arrogante e inconsequente, imaturo ao ponto de parecer infantil. Ele é o clássico exemplo do estereótipo do gênio insensível, e, por mais que isso irrite, ainda há algo nele que nos faz torcer. Talvez porque, em meio à sua incapacidade de lidar com as emoções, a série nos lembra de que mesmo aqueles que parecem ter todas as respostas podem ser, no fundo, extremamente frágeis.

Ao lado de Walter, temos Sylvester “Sly” Dodd, um gênio da matemática com uma personalidade hipocondríaca e ansiosa. Ele é basicamente uma calculadora humana com medo de tudo. Sly, com suas manias e fobias, é outro personagem que traz uma representação autêntica de neurodivergência, sendo fácil imaginar que ele também estaria no espectro autista. Sua evolução ao longo da série, especialmente na maneira como ele começa a se expor mais ao mundo e enfrentar seus medos, é uma das histórias que, apesar de simples, mais cativam.

Já Happy Quinn, a mecânica prodígio, é talvez a personagem mais emocionalmente complexa. Ela carrega suas dores de forma dura e distante, mas, aos poucos, revela seu lado mais vulnerável. Seu relacionamento com Toby, o behaviorista do grupo, é o ponto de equilíbrio entre a tensão e o alívio cômico da série. Toby, com sua capacidade de ler as emoções e intenções das pessoas, funciona como uma ponte entre os gênios antissociais e o mundo “normal”. O mais interessante, porém, é que mesmo ele, com sua habilidade de entender o comportamento humano, tem suas próprias dificuldades emocionais, especialmente quando se trata de Happy.

Paige, a “normal” da equipe, é a mãe do pequeno Ralph, um garoto brilhante, mas que também luta para se encaixar no mundo. Walter rapidamente identifica que Ralph é um gênio como ele, e essa conexão inicial se transforma em um vínculo quase paternal. Paige, por sua vez, é a responsável por trazer um toque humano à equipe, ajudando-os a lidar com suas interações sociais, ou pelo menos tentando. Ao mesmo tempo, ela também aprende com eles, especialmente com Walter, por quem desenvolve sentimentos. A dinâmica entre ela e Walter é um dos motores emocionais da série, mesmo que muitas vezes o romance entre eles seja frustrante e mal resolvido.

Cabe Gallo, o mentor e protetor do grupo, é aquele personagem que oferece uma sensação de segurança. Ele representa a estabilidade em um time que, de outra forma, seria um caos completo. Sua relação com Walter, em particular, é marcada por uma espécie de paternidade não oficial, que ao longo da série vai se fortalecendo e mostrando o quanto ambos dependem um do outro, mesmo sem admitir.

Scorpion é uma série de ação, mas que também tem um lado emocional forte, especialmente para quem se identifica com a dificuldade de se encaixar em um mundo que não entende pessoas “diferentes”. Os personagens, com todas as suas esquisitices, mostram como pessoas marginalizadas podem se unir e formar uma espécie de família, um ciclo de apoio mútuo. Isso é o que, no fundo, mantém a série interessante: não são os cenários mirabolantes ou as soluções impossíveis, mas as relações entre essas pessoas que, mesmo com todas as suas diferenças, acabam se entendendo.

Sim, a série é previsível. Todo episódio é uma corrida contra o tempo, com a equipe usando suas habilidades excepcionais para salvar o mundo de alguma catástrofe. Para alguns, isso pode ser um prato cheio de tédio; para outros, especialmente para aqueles que têm um cérebro que gosta de previsibilidade, como o meu, essa estrutura acaba sendo reconfortante. Sei exatamente o que esperar de cada episódio, e isso, curiosamente, é parte do charme de Scorpion.

Claro, é uma pena que a série tenha sido cancelada e deixado tantos pontos em aberto, mas isso não diminui o quanto ela consegue emocionar quem se conecta com seus personagens. Ainda hoje, quando revisito a série, me emociono ao me ver refletido em suas peculiaridades. No fim das contas, Scorpion não é uma obra-prima, mas, para quem se vê em suas excentricidades, é como encontrar uma família na TV – uma família disfuncional, claro, mas ainda assim uma família.


Ficha Técnica

Título: Scorpion
Gênero: Ação, Drama, Comédia
Criador: Nick Santora
Produção: CBS Television Studios
Exibição: CBS
Data de Lançamento: 22 de setembro de 2014
Data de Encerramento: 16 de abril de 2018
Total de Temporadas: 4
Total de Episódios: 93
Elenco Principal:

  • Elyes Gabel como Walter O’Brien
  • Katharine McPhee como Paige Dineen
  • Eddie Kaye Thomas como Sylvester “Sly” Dodd
  • Ari Stidham como Ralph Dineen
  • Jadyn Wong como Happy Quinn
  • Robert Patrick como Cabe Gallo
  • Eddie Kaye Thomas como Toby Curtis

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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