
Crítica: Redenção: A História Real de Bonhoeffer
O filme Redenção: A História Real de Bonhoeffer (2024), baseado na biografia escrita por Eric Metaxas, narra a trajetória de Dietrich Bonhoeffer (Jonas Dassler), um pastor luterano, teólogo e resistente ao regime nazista. A trama acompanha sua infância na Alemanha, sua formação teológica, a atuação como professor e pastor, e seu papel crucial no movimento antinazista. O filme destaca sua viagem aos Estados Unidos, onde Bonhoeffer teve contato com a teologia afro-americana em Harlem, e os eventos que o levaram a ser preso e executado por conspirar contra Hitler.
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Redenção: A História Real de Bonhoeffer prometia ser um marco no gênero biográfico, mas entrega um filme apenas razoável, que não faz jus à complexidade e profundidade da figura de Bonhoeffer. Apesar de Jonas Dassler oferecer uma interpretação convincente e introspectiva do pastor luterano, a narrativa falha ao conectar os momentos decisivos da vida do protagonista de maneira coesa e cativante.
A maior fraqueza do filme está na sua estrutura narrativa. Os cortes abruptos e a falta de continuidade entre os eventos tornam a história confusa, mesmo para aqueles que estão familiarizados com a biografia de Bonhoeffer, como quem já leu o livro de Metaxas. Episódios fundamentais na formação do teólogo, como sua amizade com Karl Barth, são completamente ignorados, enquanto outros momentos são tratados de forma superficial ou fragmentada.
Além disso, os papéis coadjuvantes carecem de profundidade. Personagens que foram cruciais para o desenvolvimento pessoal e teológico de Bonhoeffer aparecem de maneira apagada, quase irrelevante. Até mesmo a representação de Hitler é decepcionante, quase imperceptível, como se o líder nazista fosse apenas um pano de fundo na trama. Essa ausência de destaque tira parte do impacto que a resistência de Bonhoeffer deveria causar no espectador.
Por outro lado, há momentos em que o filme acerta. A representação de Bonhoeffer em Harlem, aprendendo sobre fé e prática cristã com a comunidade negra dos Estados Unidos, é emocionante e mostra uma faceta importante de sua formação. Essa experiência moldou sua visão teológica e sua coragem para enfrentar o nacionalismo e o racismo, características que o diferenciam de outros líderes religiosos de sua época. Além disso, a dedicação de Bonhoeffer à oração é retratada com sensibilidade, capturando sua espiritualidade profunda e seu compromisso com Deus.
O filme apresenta alguns pontos que destoam da realidade, inserindo situações que não existiram na vida de Bonhoeffer. Por exemplo, ele é retratado como um ativista destemido e engajado em causas sociais, como na cena em que apanha nos EUA para defender um homem negro ou quando toca piano enquanto um grupo de negros canta jazz. Embora Bonhoeffer de fato amasse as pessoas e valorizasse sua convivência com diferentes culturas, sua motivação principal sempre foi a fé cristã, que ele desejava ardentemente preservar e resgatar das distorções impostas pelo regime nazista.
Apesar de algumas críticas apontarem para um viés conservador na produção, a obra enfatiza aspectos progressistas de Bonhoeffer, como sua oposição ao nacionalismo, sua amizade com pessoas negras e seus hábitos pessoais, como fumar e beber, que destoam de ideais conservadores rígidos. Particularmente, se conservadores pensam em usar a imagem de Bonhoeffer para seus interesses, terão que criar muito mais ficção a respeito dele, do que demonstrar a realidade.
Ainda assim, o filme falha em explorar todo o potencial da história de Bonhoeffer. Com mais de duas horas de duração, Redenção é uma oportunidade perdida de criar um retrato mais completo e envolvente de um dos teólogos mais importantes do século XX. Embora seja uma boa introdução para aqueles que ainda não conhecem a vida de Bonhoeffer, a produção está longe de ser uma obra-prima.
Para os admiradores da teologia de Bonhoeffer, Redenção pode oferecer alguns momentos inspiradores, mas dificilmente se tornará um filme memorável. Faltou profundidade, coesão e ousadia para transformar a fascinante vida de Bonhoeffer em uma experiência cinematográfica impactante. No entanto, para quem busca conhecer um pouco mais sobre a história desse pastor luterano, a obra ainda é uma opção válida.
Nota: 5/10
Ficha técnica do filme A Redenção: A História Real de Bonhoeffer:
- Título Original: Bonhoeffer – Pastor. Spy. Assassin.
- Direção: Todd Komarnicki
- Roteiro: Todd Komarnicki
- Elenco Principal:
- Jonas Dassler como Dietrich Bonhoeffer
- Flula Borg como Hans Dohnanyi
- David Jonsson como Frank Fisher
- August Diehl como Martin Niemöller
- Gênero: Drama, Biografia
- Duração: 135 minutos
- Países de Origem: Bélgica, Irlanda
- Distribuição: Paris Filmes
- Classificação Indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos
- Data de Lançamento no Brasil: 12 de dezembro de 2024
- Streaming: ainda não disponível
Outras críticas:
Crítica: filme sobre Bonhoeffer é uma bela e comovente surpresa | Metrópoles
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