O flerte nunca foi uma habilidade natural para mim, e essa dificuldade é compartilhada por muitos autistas. As principais áreas de deficiência em pessoas autistas são comportamento, linguagem e socialização, aspectos que são cruciais no jogo da conquista. Acredito que muitos autistas possam se identificar com essa luta.
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Desde cedo, percebi que tinha dificuldade em iniciar uma paquera. As nuances e sutilezas do flerte, que para muitos parecem tão naturais, sempre me escaparam. Eu não conseguia entender quando alguém estava tentando me conquistar, e muito menos conseguia transmitir minhas intenções de forma clara. Esses desafios tornavam as interações amorosas um terreno nebuloso e confuso para mim.
Perder oportunidades com as garotas tornou-se uma constante na minha vida. As situações em que um clima de flerte poderia surgir passavam despercebidas por mim, e eu acabava não respondendo de maneira adequada ou, muitas vezes, não respondendo de forma alguma. Além de perder chances de me aproximar das garotas que me interessavam, eu também percebia que minhas dificuldades me faziam parecer desinteressado ou até distante, o que acabava afastando possíveis interessadas.
Essa incapacidade de flertar não se tratava apenas de perder oportunidades românticas, mas também de perder oportunidades de me conectar profundamente com outras pessoas. As conexões humanas, em sua essência, dependem muito dessas pequenas interações e entendimentos mútuos que, para muitos, acontecem de forma intuitiva. Para nós, autistas, essa intuição social não é tão acessível, e cada interação se torna um desafio a ser superado.
A falta de habilidade no flerte é mais do que uma dificuldade pessoal; é um reflexo de como a sociedade ainda não está completamente preparada para entender e acolher a neurodiversidade. Para muitos autistas, a linguagem não verbal e as pistas sociais são como um idioma estrangeiro, difícil de aprender sem um manual ou tradução. A expectativa de que todos devem saber flertar ou se comportar de uma determinada maneira exclui aqueles que simplesmente não conseguem se adequar a essas normas sociais.
Refletindo sobre essas experiências, percebo que precisamos de mais empatia e compreensão da sociedade como um todo. É importante criar espaços onde todas as formas de ser e se expressar sejam aceitas e compreendidas. A inclusão não é apenas física, mas também emocional e social.
Hoje, ainda enfrento desafios no flerte, mas aprendi a me aceitar e a buscar formas de comunicação que funcionem melhor para mim. Acredito que a chave está em sermos honestos sobre nossas dificuldades e em encontrar parceiros que estejam dispostos a entender e respeitar nossas particularidades.
Afinal, o amor e as conexões humanas devem transcender as barreiras da comunicação convencional. Eles devem ser baseados na compreensão mútua, na paciência e no desejo genuíno de se conectar, independentemente das dificuldades que possam surgir no caminho.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.
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