A imagem mostra um homem jovem sentado em uma poltrona verde-oliva, com expressão séria e postura introspectiva, em um ambiente acolhedor iluminado por uma luminária de chão. Atrás dele há um grande espelho com um impacto no centro, gerando rachaduras que se espalham em forma circular, simbolizando fragmentação ou crise interior. Ao lado do espelho há uma planta em vaso e, ao pé da poltrona, uma pilha de livros — incluindo volumes antigos que remetem à filosofia e à teologia. A composição visual sugere um momento de reflexão profunda, autoconhecimento e busca por sentido.
Saúde

Por Que Faço Terapia: Entre a Razão, a Fé e a Dor

Vivemos em uma época marcada por paradoxos. De um lado, nunca se falou tanto sobre saúde mental; de outro, nunca estivemos tão doentes emocionalmente. O sujeito contemporâneo, pressionado pelas exigências do desempenho, do consumo e da constante comparação nas redes, carrega um fardo psíquico que o adoece silenciosamente. Diante disso, é legítimo e urgente perguntar: sob qual ponto de vista é justificável que eu — ou qualquer um — faça sessões de terapia, busque ajuda psiquiátrica e se preocupe com a saúde mental?

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A psicologia responde de forma clara: corpo e mente não são entidades separadas. Somos integrais, e tudo o que afeta um, reverbera no outro. O sofrimento emocional não é invenção, nem fraqueza moral. É uma condição humana. A escuta terapêutica oferece aquilo que nem sempre encontramos nas relações cotidianas: acolhimento sem julgamento. É no encontro com o outro — com o terapeuta — que nos reconhecemos, nos escutamos e, muitas vezes, nos aceitamos. A fala organizada na presença do outro não é só cura, mas caminho. A escuta profissional favorece a reintegração do sujeito consigo mesmo. Nesse sentido, cuidar da saúde mental não é luxo, nem capricho moderno; é questão de sobrevivência psíquica.

Do ponto de vista filosófico, a resposta depende de quem pergunta. O estoico talvez diria que devemos suportar a dor com coragem. O existencialista lembraria que somos condenados à liberdade e, portanto, ao peso da escolha e da angústia. Freud, embora não filósofo clássico, revelou que a consciência humana é apenas uma pequena parte da psique — o que, para muitos, soou como heresia racional. No entanto, há um ponto comum em muitas escolas filosóficas: o valor do diálogo. Desde Sócrates e Platão, o encontro dialógico é espaço de revelação e construção do eu. A filosofia clínica, mais contemporânea, transforma esse encontro em método, reconhecendo na escuta e na interpretação das narrativas existenciais uma via de sentido. Assim, a terapia, embora não substitua a filosofia, pode ser o espaço onde a pergunta filosófica encontra abrigo na dor real de quem sofre.

E quanto à teologia? Muitos veem a fé como substitutiva da ciência, como se buscar ajuda psicológica fosse sinal de falta de confiança em Deus. Mas essa é uma leitura rasa — e perigosa. Uma teologia madura não nega a dor, tampouco rejeita os recursos que a ciência oferece para aliviá-la. A fé, longe de ser antagonista da ciência, é sua companheira na busca pela verdade e pelo cuidado da vida. Se o sofrimento não decorre diretamente do pecado — e nem toda dor é espiritual —, então é lícito buscar, com os olhos da fé, o alívio em terapias e medicamentos, desde que não anulem o sentido da existência. A boa teologia compreende que um remédio não substitui a graça, mas pode ser meio por onde a graça se manifesta. Nesse sentido, fazer terapia é também um gesto espiritual: reconhecer que sou limitado, que preciso de ajuda, que não dou conta sozinho. Há humildade e fé nesse movimento.

Portanto, sob todas essas óticas — psicológica, filosófica e teológica —, fazer terapia é um ato de responsabilidade consigo mesmo. É a coragem de parar, olhar para si e, sem máscaras, admitir: “Eu preciso de ajuda”. É nessa honestidade que começa o processo de cura. Não é desistir de si; é, na verdade, o início da reconciliação com aquilo que somos: seres em busca de sentido, cuidado e, acima de tudo, verdade.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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