Quando o Setembro Amarelo Desbota

O calendário avança, e com ele setembro se despede, levando consigo as campanhas, os cartazes e os discursos que pintam o mês de amarelo. O amarelo que ilumina as consciências sobre uma realidade sombria: o suicídio. Mas é um amarelo que desbota, que se esvanece com a folhinha virada no último dia do mês. Como se a dor também pudesse ser arquivada, como se o sofrimento humano pudesse obedecer aos ciclos do calendário.

Em setembro, as igrejas falam, as escolas se mobilizam, as empresas organizam palestras, como se, por algum instante, o mundo parasse para prestar atenção naqueles que, em silêncio, gritam por ajuda. E então o mês se vai, e parece que a preocupação também.

Mas a dor não respeita o calendário. A angústia não tira férias. O desespero não consulta os feriados ou os meses. Ele chega sorrateiro em dias comuns, em noites escuras de agosto, em manhãs chuvosas de dezembro, em tardes cinzentas de março. O sofrimento é diário, é eterno enquanto dura.

Precisamos de mais que um mês pintado de amarelo. Precisamos de uma paleta de cores que se estenda ao longo do ano, que pinte todos os dias com ações e palavras que façam diferença. Não basta uma campanha. É preciso atenção contínua, preparo constante, sensibilidade afiada. Nossas igrejas precisam ser espaços onde o acolhimento seja rotina, onde haja braços estendidos para quem já não vê sentido em continuar. Nossas escolas precisam identificar os sinais do sofrimento antes que ele se transforme em tragédia. E nossas empresas, que tantas vezes veem seus funcionários como números, precisam olhar para eles como pessoas, feitas de carne e osso, com almas que carregam pesos que não aparecem nos relatórios.

Setembro passa, mas o sofrimento fica. O que nos cabe, então, é não deixar que o amarelo desapareça com o fim do mês. É buscar colorir o mundo de cuidado e compaixão todos os dias, porque há vidas que, silenciosamente, dependem de que alguém as enxergue. Que sejamos, a cada mês, a cor que falta na vida de quem já não vê brilho algum. Que o amarelo seja o início, e não o fim, de um olhar mais atento, de uma escuta mais profunda, de uma mão sempre disposta a segurar a de quem já está prestes a soltar a vida.

Porque o sofrimento não marca hora. E nossa compaixão também não deveria.

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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.

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