Suicídio: Quando a Dor Silencia

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Aqueles que nunca sentiram o peso insuportável de viver, comumente caem no erro de acreditar que alguém que pensa em suicídio escolhe conscientemente considerar essa opção. É uma suposição trágica, carente de empatia, que ignora a realidade devastadora enfrentada por quem carrega essa dor.

Quando a mente é tomada por pensamentos suicidas, não há escolha entre viver e morrer. Há apenas a dor, e com ela, a urgência de encontrar uma maneira de silenciá-la. O pensamento suicida não surge como uma decisão, mas como a única resposta visível à aflição insuportável. Não existem bifurcações nesse caminho; existe apenas um túnel escuro em que a única luz parece ser a saída definitiva.

Aqueles que querem ajudar costumam tentar mostrar o quanto a vida pode ser bela ou como existem outras opções. No entanto, essa abordagem muitas vezes cai em ouvidos surdos, pois a pessoa que sofre já está convencida de que a morte é a única solução. Ela não precisa ser convencida de que há um caminho “melhor”; precisa de alguém que acredite na intensidade de sua dor, que se compadeça de seu sofrimento e que esteja disposto a caminhar ao seu lado na busca por uma nova perspectiva.

O problema é que, na tentativa de ajudar, muitos tratam o suicida como alguém que simplesmente não entende, como se ele estivesse equivocado em sua percepção. Mas a verdade é que essas pessoas não são ignorantes quanto à sua dor; elas a conhecem de maneira profunda e visceral. Se pudessem escolher, talvez optassem por um caminho diferente, mas essa escolha lhes parece impossível.

O caminho para ajudar não é encher a cabeça dessas pessoas de palavras ou razões. Na verdade, o que elas mais precisam é esvaziar suas mentes da dor e do desespero que as consome, para que algo novo possa, eventualmente, preenchê-las. Isso não é simples, exige tempo, paciência, e, sobretudo, silêncio e empatia. É um processo que demanda a presença de um companheiro de jornada, alguém que saiba respeitar o espaço e o ritmo do outro.

Infelizmente, essas duas coisas – cuidado especializado e companheirismo verdadeiro – são raras. E é nessa escassez que muitos se perdem. A solução está em ser paciente, em dar tempo para que a pessoa encontre uma nova luz, em ser um porto seguro onde ela possa descansar, sem pressões, sem julgamentos, sem palavras desnecessárias. Às vezes, o que salva não é o que se diz, mas o que se silencia. E, nesse silêncio, a cura pode começar.

Perguntas para Refletir

  1. Como o silêncio e a empatia podem ser ferramentas mais eficazes na ajuda a alguém com pensamentos suicidas, em vez de tentar convencê-lo de que a vida tem valor?
  2. De que maneira a sociedade pode se tornar mais sensível e preparada para oferecer o tipo de apoio necessário a pessoas que enxergam o suicídio como a única saída?
  3. Qual é o impacto das nossas próprias crenças e preconceitos ao lidar com alguém em sofrimento extremo, e como podemos melhorar nossa abordagem para realmente ajudar essa pessoa a encontrar um novo caminho?
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Paulo Freitas

Paulo Freitas

Paulo Freitas é teólogo, filósofo, professor e presbítero. Autista, escreve sobre fé, fragilidade, dor, neurodiversidade e tudo o que nos torna profundamente humanos.

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