A branquitude dominante, em sua busca incessante por perpetuar o poder, criou uma ficção perversa: o racismo reverso. É uma invenção que, embora absurda, ganhou ressonância entre aqueles que se sentem ameaçados pelo simples ato de questionamento. Esses defensores do poder histórico, em sua engenhosidade para distorcer a realidade, comparam uma ironia lançada por uma pessoa negra a um branco ao peso histórico e sistêmico do racismo. Uma comparação desonesta, tosca, mas cuidadosamente articulada para manter a supremacia intacta.
Há uma fantasia elaborada nessas mentes, que insistem em enxergar o desconforto de ouvir verdades como o mesmo que sofrer a opressão secular. Os poderosos, quando confrontados, armam-se de sua fragilidade inventada, rotulando qualquer incômodo como opressão. Mas o que é isso, senão mais uma estratégia de controle, um reflexo da velha estratégia de suprimir a voz do oprimido, agora disfarçada de suposto equilíbrio?
O mito do racismo reverso é mais que uma falácia: é um desvio cínico da luta real por equidade. Não é uma resposta justa ou um desejo de convivência harmoniosa entre os diferentes. É o suspiro desesperado de quem vê seus privilégios históricos ameaçados, e na tentativa de se blindar, criam narrativas de perseguição onde não há. Mais uma vez, a história dos poderosos é reescrita, desta vez com eles como vítimas, numa ironia crua e amarga.
Os juízes e magistrados, que deveriam estar a serviço da justiça, são por vezes coniventes com esse ciclo vicioso. Blindam os “branquelos poderosos” como se estivessem corrigindo um desequilíbrio imaginário. A verdadeira marginalização, aquela que sangrou e oprimiu por séculos, é novamente silenciada, reduzida a uma questão de opinião. E assim, num espetáculo triste e farsesco, a opressão é legitimada.
O fim do poder branco, aquele que oprimiu e segregou, parece um horizonte inalcançável. As promessas de equidade e justiça, que um dia acenaram no alto dos montes, agora estão envoltas em névoa densa. Enquanto o mito do racismo reverso for alimentado, a verdadeira liberdade, a igualdade que tanto se busca, continuará distante, ofuscada pelas sombras de uma hegemonia que não quer morrer.
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Casado com Janaína e pai do Ulisses. Tutor da Zaira (Chow-Chow) e do Paçoca (hamster). Escritor por hiperfoco e autista de nascença. Membro e presbítero da Igreja REMIDI e missionário pelo PRONASCE. Teólogo, Filósofo e Pedagogo em formação. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Neuropsicopedagogia e Educação Inclusiva. Meus autores preferidos são: Agostinho, Kierkegaard, João Wesley, Karl Barth, Bonhoeffer, Tillich, C. S. Lewis, Stott e alguns pais da igreja. Meus hobbys são: ler, assistir filmes e séries.
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