O Amor, o Vaso e a Vaidade
O amor, esse verbo tão conjugado nas músicas, nos púlpitos, nos stories e nos sermões de domingo, anda meio prostituído — não no sentido de que foi violentado, mas no sentido de que se vende fácil por aplausos, curtidas e aprovação moral instantânea. Leia também: A Era do Eu Inchado: Identidade Inflada e a Vacuidade do Ser Vivemos dizendo que sabemos amar, como se amar fosse simplesmente não matar, não estuprar ou dar bom dia no elevador. Confundimos afeto com gentileza, fidelidade com presença, altruísmo com marketing de si mesmo. Pais dizem que batem por amor, e filhos crescem confundindo dor com cuidado. Cônjuges traem em nome de um amor…
Deus Odeia? A Contradição dos que Falam por Deus
Assisti a um vídeo profundamente desconcertante. Nele, uma jovem pergunta à mãe o que ela pensa sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. A resposta vem cortante: “Eu respeito, mas Deus odeia.” A conversa progride até a revelação da filha: ela é lésbica. A mãe, em aparente dilema, repete: “Filha, eu te amo, mas Deus odeia isso.” Essa frase — aparentemente equilibrada — revela uma fratura teológica e humana. Há uma tentativa de manter o afeto, mas sem abrir mão do julgamento. Como se o amor fosse possível sem aceitação. Como se o afeto pudesse coexistir com o ódio divino terceirizado. Comecemos do princípio: Deus é amor (1Jo 4.8). Não…
Sobre o Corpo, os Membros e o Amor Que se Faz Carne
Há quem pense que amar seja verbo de assento macio, que se conjuga em discursos, abraços frouxos e promessas lançadas ao vento. Mas há um amor que é verbo de chão, de calo nas mãos, de mesa posta, de escuta atenta. Amor que não se limita a dizer “você é bem-vindo”, mas que se traduz em “aqui está seu lugar.” No Corpo, há muitos membros, dizia Paulo, o apóstolo. E cada um com sua função, seu compasso, sua cadência. O problema é que nem sempre o Corpo lembra que nem todo pé corre, nem toda mão toca, nem todo olho vê da mesma maneira. Às vezes, esquecemos que há membros…
O Peso do Pecado e a Leveza da Graça
Muitos de nós fomos ensinados — ou deduzimos sozinhos — que Deus, diante do nosso pecado, se comporta como alguém profundamente emocional, como se sentisse mágoa à nossa maneira: vai para um canto, abaixa a cabeça, derrama lágrimas e sofre. A imagem é comovente: um Deus eterno, santo e majestoso, abatido pela miséria da criatura. Mas ao mesmo tempo, essa imagem é perigosa. Ela reduz Deus ao nosso tamanho e transforma a tragédia do pecado humano em um drama afetivo divino. Não é isso que a Bíblia ensina. Leia também: Por que a Graça Redentora Anula as Consequências do Pecado Sim, a Escritura nos diz que Deus se entristece com…
O Peso do Sofrimento e o Brilho da Cruz
Há quem diga que o sofrimento é um fardo que nenhum ser humano deveria carregar. E, se sou acusado de defender o sofrimento, respondo com serenidade: não sou adepto da dor, nem daqueles que, por loucura ou desejo, encontram nela prazer. O sofrimento não é escolha, é parte inevitável da caminhada do cristão neste mundo. Leia também: O Peso da Glória e a Fraqueza Que Vence o Mundo O que seria, afinal, essa jornada sem as marcas deixadas pela dor? Jesus, o Homem das Dores, caminhou por estradas empoeiradas, tocou as feridas dos aflitos, e se fez próximo daqueles cujos corações já não viam mais esperança. E, assim como Ele,…
O Amor que Reconhece as Diferenças
Ao entrar na clínica onde meu filho, autista, realiza suas sessões de terapia, deparei-me com uma frase que, à primeira vista, parece acolhedora e cheia de boas intenções: “Enquanto existir amor, não haverá diferenças.” No entanto, ao refletir mais profundamente sobre essas palavras, percebo o quanto elas são problemáticas, principalmente quando aplicadas ao contexto da neurodiversidade. A neurodiversidade, como o próprio nome sugere, é o reconhecimento das diferenças neurológicas entre os indivíduos. Ela nos ensina que o cérebro humano pode funcionar de diversas maneiras, e essas variações são naturais e devem ser respeitadas. A frase na clínica, porém, parece sugerir que o amor tem o poder de apagar ou ignorar…